segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

“Não há nada de novo sob o céu”


Davi, Rei de Israel, teve muitos filhos, a maioria deles, como ele, com muito sangue nas mãos, verdadeiros guerreiros nas diversas batalhas que solaparam o reinado e a vida de um dos personagens bíblicos mais importantes, a ponto de fazê-lo ter uma vida relativamente curta, em comparação com os demais relatados.
Os filhos que mostraram poderosos feitos na guerra certamente esperavam ser seu sucessor. Um deles, Absalão – dizia-se dele forte e bonito – liderou uma rebelião contra o próprio pai, querendo lhe usupar o trono mesmo antes dele morrer. Digamos que Davi até pode ter tentado, mas como chefe de família não foi lá aquelas maravilhas. E talvez a cada Ano Novo tenha lamentado os erros que cometeu. Ah... e como Davi lamentou. Davi não foi idiota o suficiente quanto tantos de hoje em dia que batem no peito pra dizer: “Não me arrependo de nada que fiz, só do que não fiz”. Não, Davi sabia no que tinha errado, mas tentava acertar, com todo o seu coração. Seus erros o torturavam como uma lança o atravessando de fora a fora, numa intensidade quase tão grande quanto o seu amor pelo Criador, e foi por isso que ele foi considerado um homem “segundo o coração de Deus”. Nossas ações o homem pode julgar, mas só Deus sonda os corações e as intenções.
                Voltando à filharada... o destino de Absalão foi a morte precoce, o que muito entristeceu a Davi. Mas os demais filhos talvez nunca tenham imaginado que o trono não iria para nenhum filho soldado. O trono foi para o filho poeta. O filho que Davi teve com Bathsheba: Salomão, o tal até hoje conhecido por sua riqueza e sabedoria.
                Salomão teve um reino tão próspero que atraiu a curiosidade dos reinos vizinhos e recebeu uma inusitada visita da Rainha de Sabá. Salomão viveu nababescamente e sua excentricidade inclui um amontoado de 300 mulheres e 700 concubinas. Em seu livro de Cantares, o poeta faz declarações de amor. Não se sabe ao certo quem foi que Salomão amou. Pois alguém com 1000 mulheres não ama nenhuma. É como aquela história do amigo entre 1000 do Facebook que nem sabe que você existe. De alguma forma a prosperidade material subiu à cabeça do Rei a ponto de ofuscar-lhe a visão para as coisas desta vida que realmente valem a pena. E é no livro de Eclesiastes, o que ele escreveu já no final da vida, que o poeta monarca destila todo o seu fel e amargura para com o que ele fez de sua vida. E muito do que lemos ali, quando ainda não acumulamos determinadas experiências, sequer podemos entender, como, por exemplo, quando ele diz que prefere estar num funeral do que numa festa. Só quem já viveu a dor do luto sabe que ela dói, mas, por outro lado, nos confronta com a mais absoluta das verdades e, para o cristão, a certeza da vitória de Cristo sobre a morte. Por outro lado, não se pode confiar na alegria passageira de uma festa, onde o vinho e a falsidade muitas vezes bebem da mesma fonte. Nessas horas nunca se pode saber quem é teu amigo de verdade. E com certeza Salomão se confrontou com ambas as realidades.
                Dentre tantos outros versos tão amargos quanto intrigantes, do mesmo livro em questão, está a famosa frase: “Não há nada de novo sob o sol”. E aí ele segue dizendo: “Tudo é canseira e enfado; tudo é correr atrás do vento; tudo é vaidade; tudo”.
                Passeando pelas ruínas lícias da costa da Turquia tive o prazer de contemplar os restos de uma civilização que floresceu antes de Cristo, em meio à exuberância da vegetação mediterrânea. Dentre estas ruínas, sepulcros de gente rica, já depredados. Dentro deles, o que restou? Poeira e algumas folhas aqui e ali. De fato, se aquele que ali foi enterrado era bonito ou feio, se ele se vestia de trapos ou do mais puro linho, que importa agora? Salomão estava, afinal, cheio da razão. Tudo é vaidade. É só uma questão de tempo.
                Mas e o novo? O novo que tanto procuramos? Salomão diz que não há nada novo sob o sol. Isso significa que, de uma certa forma, tirando os penduricalhos e os acessórios, na essência, através dos séculos, a humanidade nunca mudou de fato e se manteve repetindo os mesmos erros.
Por outro lado, quem (com mais de 30 anos), já experimentou a sensação de estar vivendo ano após ano uma certa rotina e aquele sentimento de que os acontecimentos ao redor de si se desdobram de forma cíclica: os calendários, as datas comemorativas, as tradições, as festas, os aniversários, os casamentos, as estações, as específicas épocas do ano, os eventos edição número 1, número 3, número 5.000, o Missão Impossível I, o II e III, o casa-separa, o volta-briga, o aperto de mãos-tapa na cara, o inimigo que virou amigo, o amigo que virou inimigo – e isso já está ficando mesmo previsível – as realidades que poderiam ser solucionadas mas nunca são, os mesmos problemas de sempre, no Brasil e no mundo, os protestos que não chegam a lugar nenhum, o mendigo que foi ajudado e já outro mendiga em seu lugar, o traficante que foi preso e já outro vende em seu lugar, o acidente cujos restos mortais já foram resgatados, mas na TV as notícias divulgam outro ainda pior. E é outro avião que caiu, outra celebridade que morreu, outro escândalo que não escandaliza mais, outra mulher fruta, outra moda inspirada em outra que foi inspirada em outra. A nova isso, a nova aquilo, que na realidade é a mesma coisa. A filha da Elis Regina, que canta igual a ela. O Roberto Carlos, que canta a mesma coisa todo ano. E a Xuxa, que... né? Não precisa nem falar nada.
                E vem novo carnê de IPTU. Novo? E vem nova lista de material escolar. Nova? E vem notícia ruim. De novo. E vem notícia boa, mas também temos saudades do passado. Afinal, há algo de novo sob o céu? E se há, será que realmente o buscamos ou só falamos isso da boca pra fora? Muita gente diz que gostaria de dar uma guinada, mas só o faz quando não tem mais alternativa. Então às vezes as coisas têm que acontecer à sua revelia, para o seu próprio bem, pra que o ‘novo’, não o que Salomão pensou que não tivesse mais, se estabeleça de fato e finque em sua biografia raízes que você agradecerá no futuro.
                Em 2014, não seja relutante a mudanças, receba-as de coração aberto, sem frustrações, sem preocupações, sem amargura, sem ingratidões, lutando contra a ansiedade e a descrença, mas sempre com o pé no chão, a fé em Deus e o coração puro. Em 2014, seja agradecido ao passado, mesmo que este passado, seja ele 2013, ou anos ainda anteriores, tenham te machucado tanto, pois em tudo – absolutamente tudo – há um lado positivo a se aproveitar. Não podemos mudar muitas coisas que a vida nos impõe, mas podemos decidir o que fazer com o que a vida nos impõe, de que maneira reagiremos, se a ética prevalecerá acima de tudo, se iremos ser fiéis ao que somos, ao que acreditamos, ao que temos de real e indissolúvel nesta vida, que é aquilo que, no final de todas as coisas, nos mostrará que, afinal, algo muito importante, um dia, se renovará.
                E agora eu quero falar do aniversariante do mês passado: Jesus Cristo. E finalizarei com uma frase que só poderia mesmo ter sido dita por ele e não por Salomão, que, apesar de rei, não passava de um homem comum. “Eu renovo todas as coisas”. Cristo é renovação. Renovação de vida. E vida eterna. Nada que ele muda pode ser mudado novamente, porque ele é o dono do presente, passado e futuro dos que Nele confiam e suas mudanças não podem ser corroídas pelo tempo.
                Neste mundo, realmente, tudo passa. E algumas coisas são cíclicas – voltam a acontecer. Nem sempre do mesmo jeito, mas podem voltar. Mas é preciso aprender a lidar com a finitude de algumas coisas e o começo de outras. Assim é a vida. E é preciso também estar aberta ao recomeço.
                O Jornal do Comércio foi um projeto magnífico de ser feito e após mais de quatro anos de sucesso, entra em recesso com esta edição. Deixará saudades nesta jornalista e espero eu que em muitos leitores – sei que é vaidade, mas deixem-me ter esta, que também passará por sinal. As vidas tanto da entidade quanto desta jornalista passarão por mudanças muito positivas. O Sindicato terá seus investimentos concentrados em prol do comerciante, numa escala de prioridade plenamente justificável – enquanto esta jornalista se dedicará a seu projeto solo, sua revista virtual (www.catanduvafashion.com) que é um sucesso e que já conta com o Sincomércio como um de seus parceiros. Ali o leitor poderá conferir notícias do comércio, além de dicas de moda, beleza, viagens, gastronomia, arquitetura, dentre outras editorias interessantes, a um clique de suas mãos. Viaje nessa ideia, que é nova, é fashion e vai se renovar a cada dia. Um grande abraço a todos, meus agradecimentos por este tempo de jornal e um Feliz 2014 a toda população de Catanduva e região, aos leitores (comerciantes, comerciários ou consumidores) e à equipe Sincomércio Catanduva.

Por que choras?

Por que choras?

Fim de ano é período de lembrar os fatos ocorridos nos 12 meses que transcorreram. E certamente boa parte deles não foi recheada de experiências prazerosas, para grande parte da população.
Na nossa sociedade onde a felicidade é pré-fabricada, vendida e embalada pra presente, onde a superficialidade toma o lugar da reflexão e análise de realidades, ficar melancólico ou triste é algo inaceitável. É como se comemorar e festejar fosse uma obrigação, enquanto lembrar do passado fosse algo condenável digno somente dos perdedores. Mas há algo de muito importante a se dizer a esse respeito.
Uma das maiores perdas para um ser humano e razão do mais alto grau de estresse e depressão é a perda de um ente querido, conforme pesquisas atestadas por profissionais das áreas de psicologia e psiquiatria. Certamente que muitos perderam não somente dinheiro, emprego, bens ou amizades, este ano, mas também pessoas amadas, que vieram a falecer.
Pessoas que lidam com o luto são muitas vezes, nessas épocas do ano, compelidas a forçar uma alegria que não estão sentindo, dando ouvidos a frases feitas que as encorajam a ir em frente, pensar só no futuro e esquecer o passado. A maior parte de tais comentários repetidos à exaustão está mascarada de boa intenção, mas a verdade é que os outros preferem não ter de lidar com os sentimentos complexos e duros de quem está passando por um momento de profunda dor.
Lembrar-se de quem amamos e se foi deste mundo não é auto-comiseração, mas sim ter orgulho de um passado que fez quem nós somos.
As rochas frias não são conscientes dos golpes incessantes recebidos do mar, por isso também não podem saber o quanto são belas.
As árvores retorcidas pelo chicotear do vento, ao longo de seu crescimento, subsistem sem se dar conta do encantamento que são capazes de suscitar.
As lagunas transparentes aprisionadas nos anéis de corais já não se lembram de quando a terra foi rasgada sem dó nem piedade por um colossal vulcão e tampouco se recordam de quando este mesmo vulcão foi pouco a pouco sendo engolido pela mesma força que lhe fez brotar.
Quando estão adornando um pescoço qualquer, as pérolas não podem contar a dor que se fez presente no interior das ostras, mas seu brilho testemunha o sofrimento agonizante de um ser vivo lutando para se proteger de um intruso e que fez um esforço descomunal para envolver a substância causadora da dor em camadas e camadas de nácar. As ostras certamente sabem o que fazer com a dor delas, mas o resultado dessa dor é para sempre lembrado como algo belo.
Entretanto, é relegado apenas a nós, seres humanos, o prazer de contemplar todas as coisas e admirar a beleza da criação e do que foi moldado pelo sofrimento.
Herdamos do divino a consciência do belo e o prazer da contemplação, “pois viu Deus tudo quanto criara e eis que era muito bom”.
Ele, ciente de tudo, certamente sabia que seu coração seria ferido pelo homem, incontáveis vezes, mas persistiu no plano de mandar seu filho em sacrifício pela nossa remissão, para que Nele, por Ele e para Ele fossem todas as coisas e nenhum sofrimento em vão, se Nele somos mais que vencedores. O capítulo final certamente vale a pena.
Deus, como nós, se lembra de tudo, se alegra, ama e sofre. Não sofreríamos também nós?
Nossa missão na Terra, muitas vezes, é mostrar o que persiste quando milagres não acontecem, quando nada anti-natural freia a força do vento ou das ondas do mar. Só assim a beleza da fé pode ser revelada. O milagre maior é sobreviver em meio às adversidades. Nossa gratidão por uma graça imerecida se revela no amor que ainda podemos dispensar, através de nossas atitudes e, apesar das dores acumuladas, mostrar que ainda podemos sorrir, viver e fazer brilhar em nós aquele que venceu o mundo e manter acesa a chama da esperança e da bondade, para que outros tenham o prazer de contemplar a beleza das rochas, das árvores, das ilhas, das pérolas e das nossas vidas.
Tudo que é belo ou tem qualquer significância no mundo, ontem e hoje, foi produzido pela dor, do contato íntimo com a vida, no mergulho em seus mais profundos recônditos e não no boiar confortável em sua superfície.
Só então podemos repetir a Deus as palavras de Jó: “Antes te conhecia de ouvir falar, mas agora meus olhos te vêem”.
Ver é consciência. Ver não é ilusão. Ver não é negação. Ver não é esquecimento. Ver não é finito. Ver não é limitado. Ver é contemplar. Ver é sentir. Só quem sabe ver, sabe compreender e amar. Consegue então exalar o perfume da essência de Deus, que é o amor. O amor que “tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. Não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade”.
É por isso que o amor não esquece jamais. É por isso que quem sofre não morre de verdade. É por isso que quem não é capaz de amar pode até viver sem sofrer, mas nunca terá existido de verdade, nem subsistirá.
Porque não há dom mais precioso que o amor. Porque “ainda que eu falasse a língua dos homens e dos anjos, se não tivesse amor, nada seria. Seria como o sino que ressoa”, feito de ferro frio e sem vida, capaz apenas de repercutir o impacto de uma força exterior, sem ter nunca nada a dizer. Iguala-se, assim, às rochas frias. Tão belas e tão tristes. Como é triste não saber! E mais triste que perder é esquecer.
Lembrar pode doer porque conhecemos em parte. Quando vier o que é perfeito, o que é imperfeito será aniquilado. Agora vemos como por um espelho, mas então veremos face a face.

Agora conheço em parte, por isso sofro, mas conhecerei como se deve, se em mim permanecer o amor. Em 2014, faça tudo com amor. O amor pode não te poupar do sofrimento, mas certamente te livrará da verdadeira morte.

sábado, 23 de novembro de 2013

Feridas na alma



As feridas na carne são facilmente visíveis, mas as doenças da mente e da alma facilmente incompreendidas. Depressão não é frescura, falta de fé ou influência de espíritos malignos, como ainda afirmam alguns. Depressão é uma doença psicológica, e por isso mesmo invisível aos olhos humanos, capaz de enganar mesmo quando tudo parece estar bem e capaz de provocar danos no cérebro, mesmo quando tudo parece ter voltado ao normal.
Depressão pode ser causada por grandes ou pequenos traumas, pois cada pessoa é diferente e cada vivência e reação acontecem em diferentes níveis, e até mesmo pode não ter causa nenhuma aparente. Há pessoas comprovadamente e biologicamente mais suscetíveis à depressão do que outras. Orações, terapia, medicamentos, sol, exercícios, viagens, amor... tudo isso é capaz de ajudar o depressivo, pois a depressão tem cura. Depressão não é tristeza. Todo mundo tem dias que está mais triste e isso não significa que está com depressão. A depressão é uma tristeza profunda, uma agonia que inunda a alma que parece não ter fim e só quem já teve sabe o que é. Infelizmente, sofre o estigma das doenças invisíveis.
Ninguém pode ver o quanto estamos machucados por dentro. Não é como um câncer que definha a pessoa. Não é como uma lepra que mutila o corpo. Não é como uma pneumonia que torna a pessoa ofegante. Não é como uma tuberculose que faz a pessoa tossir sangue. A depressão não tem nenhuma forma material para se mostrar e é por isso que os depressivos sofrem tanto preconceito quando sofrem dos sintomas diversos da depressão, que não são apenas choro e ansiedade, mas também podem aparecer sob a forma de perda de energia ou agressividade, além de várias outras reações, que tornam o depressivo companhia indesejável e por isso ele se isola. Ele se isola não porque não goste das pessoas, mas porque já está cansado de frases feitas e porque não quer ser má companhia para ninguém e nem o cansaço de forçar uma alegria que não existe.
Ainda persiste um estigma muito grande para com as pessoas que sofrem com alguma forma de doença mental ou psicológica. Entretanto, e curiosamente, o mesmo estigma não paira sobre os que demonstram o contrário: ausência total de sentimentos.
Os depressivos são pessoas com tendência a serem mais frágeis e sensíveis à própria dor e à dor dos outros. São pessoas que pensam demais, que querem respostas demais, que se sentem impotentes quando não podem mudar realidades injustas que estão machucando os outros, por dentro e por fora.
Infelizmente, nossa sociedade, a mesma que rotula os depressivos de fracos, é regida por psicopatas e atravessa um perigoso processo de "psicopatização".
O psicopata não necessariamente é um assassino serial. A maioria, aliás, não é. Eles podem se tornar assassinos dependendo de seu histórico de vida, mas a maioria simplesmente é caracterizada pela frieza de sentimentos, individualismo, egoísmo, preocupação consigo mesmo acima de tudo, dificuldade de se relacionar com o outro e estabelecer um elo sentimental com ele. O psicopata não sofre com a dor do outro, por isso não tem tempo a perder. O psicopata não tem dramas que o afligem para o tirar de seu verdadeiro foco: vencer na vida, acima de tudo, ainda que isso signifique mentir e passar por cima de quem seja. Não é à toa que temos hoje psicopatas em cargos de liderança nos mais altos graus da nossa política e economia. Psicopatas são os poderosos do mundo, pois só eles não tem sentimentos pra lhes embaçar a sua missão de ser o primeiro, sempre o vitorioso, sempre na frente. Sentimentos só atrapalham. Amar faz sofrer. Chorar não adianta nada, nem leva ninguém "pra frente", mas quem tem sentimentos simplesmente não consegue ser diferente. Porque ou se tem ou não se tem sentimentos. E também há níveis de empatia. Há pessoas que são capazes de se conectar sentimentalmente com seus mais próximos: filhos, marido, mulher, pai, mãe, amigos até, etc. Outros são dotados de um grau maior de empatia, são capazes de sentir a dor do outro, são capazes de sentir até o ambiente, se entristecem com a própria sociedade decrépita que os rodeia e se mortificam com a impotência para mudar realidades que os psicopatas lhes roubaram, enquanto eles, os depressivos, estavam "distraídos" com os próprios sentimentos.
Sim, neste mundo, parece que os maus sempre levam a melhor, porque eles não pensam duas vezes antes de trapacear. Por isso estão sempre na frente. Os bons são regidos por leis éticas, morais e sentimentais. Fala mais alto o coração e isso pode atrapalhar o seu sucesso no mundo.
Entretanto, sentir demais não deve ser motivo de vergonha. Este mundo cada vez mais cheio de psicopatas, de brilhantes economistas, banqueiros, administradores, engenheiros... vai precisar de poetas, artistas, filósofos, músicos, escritores, enfermeiros e médicos que se dedicam de corpo e alma e outras pessoas que tem uma missão na terra, que é fazer a diferença. Eles serão a luz do mundo. Eles serão o sal da Terra. E por causa deles nem tudo estará perdido.
O mundo caminha para um caos, mas a maioria dá de ombros como se isso não tivesse nada a ver com eles. Graças a Deus, o coração de alguns ainda queima por causa das injustiças e das tristezas e isso os compele a lutar a fazer algo, mesmo em meio a dor.
O mundo vai precisar de quem é capaz de sentir dor. Não só a própria, mas a dos outros.
O mundo vai precisar de gente que fala olhando nos olhos, que fala com o coração e que não tem vergonha de chorar.
Podemos não ser tão vitoriosos no material sentido da palavra, agindo com o coração, mas para os que verdadeiramente agem com o coração, o ser vitorioso não tem a mesma importância que tem para o psicopata.
E é por isso que apesar de considerar grave esta epidemia de depressão, não acredito que a depressão seja a doença do século 21. Foi a do século 20. A doença do século 21 é a psicopatia, disfarçada de obsessão pela vitória e competitividade, mantida com os convivas de revistas onde o máximo de profundidade que são capazes de chegar é a profundidade de suas próprias jacuzzis.
Talvez não devamos curar todos os tristes, mas apenas mantê-los sãos e decididos a continuar lutando, porque o mundo precisa mais dos tristes que dos alegres. O mundo precisa mais de quem entende da dor deles do que dos que sequer sabem do que você está falando.

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

A Adúltera

"Aquele que não tiver pecado que atire a primeira pedra", disse Jesus quando lhe trouxeram a mulher adúltera para ser apedrejada.
Interessante notar que eles tiveram que insistir na pergunta sobre o que ele sugeriria que se fizesse com a mulher. Quando jogaram a mulher no meio do povo, em frente a Jesus, ele, como se diz no popular, "não deu nem tchum", literalmente ignorou a cambada de hipócritas, continuando a escrever na areia. E assim, "como insistiram muito na pergunta", Jesus respondeu.
Sempre imagino como deve ter sido difícil pro filho de Deus, tão cheio de sabedoria, lidar com tanta estupidez.
Importante ressaltar que Jesus não era condescendente com o adultério. Muito pelo contrário, era tão rigoroso a esse respeito que chegou a ressaltar que se um homem olhasse pra outra mulher com pensamento impuro já teria adulterado com ela. Entretanto, aquela não era a questão ali. Aqueles homens que trouxeram a mulher adúltera até Jesus intencionavam, com isso, testar Jesus, para colocá-lo "em maus lençois", visto que pela lei de Moisés o crime de adultério deveria ser punido com o apedrejamento, mas pela lei de Roma, a qual os judeus estavam sujeitos, só Roma poderia condenar alguém à morte.
Assim, não importando a decisão de Jesus, se dissesse que 'sim, apedrejem' ou que 'não, perdoem-na', ele estaria numa situação delicada, pois ou estaria infringindo a lei de Moisés ou afrontando a César.
Mas Jesus, que sonda os corações, sabia da intenção maliciosa e parcialidade daqueles judeus, que nem sequer levaram o homem com o qual ela adulterava (a lei de Moisés previa mesma punição para ambos), mas somente a mulher fora acusada.
Jesus não aprovou a atitude da mulher adúltera, tanto que ao final disse "não te condeno, mas vá e não peques mais", mas não fez diferença entre o erro de um e de outro. Ele não disse "aquele que não adulterou, atire a primeira pedra", mas sim "aquele que não tiver pecado". E a Bíblia fala que todos, um a um, a começar dos mais velhos até os mais novos, foram se retirando.
Quem de nós pode se afirmar perfeito? Mas Jesus é perfeito e tem poder para perdoar pecados, como o fez com aquela mulher.
Hoje também vemos muita hipocrisia dentro e fora das igrejas, com os mais diversos tipos de pecados, desde enriquecimento ilícito até a própria falta de amor, que traz em seu bojo uma série de erros, que é a maledicência, a soberba, a ingratidão, a fofoca, a hipocrisia, a malícia, a vaidade, o orgulho, a maldade, o semear de contenda entre irmãos, a falta de compromisso, a falta de sentir a dor do outro, a falta de caridade.
Os primeiros cristãos tinham tudo em comum, sentavam-se no chão para ouvir as escrituras e escondiam-se em cavernas, fugindo da perseguição que não raras vezes acabava em morte, após torturas indizíveis.
Hoje vamos à igreja e tem gente reclamando da cor do tecido que escolheram para o estofado da cadeira. Eu posso com isso?
O que o senhor acha, Jesus, da cor do estofado da cadeira? Sinceramente? Ele continuaria fazendo ouvidos de mercador, e continuaria escrevendo na areia...

sábado, 16 de novembro de 2013

Celebrar Proclamação da República ou Finados?

Esta semana comemoramos o Dia da Proclamação da República, mas o que temos a comemorar? Ah, sim, lembrei... nos livramos do rei Dom Pedro II, certo?
Então um pouquinho de História para os que pensam que o Brasil se deu muito bem com essa troca.
Se na época do império quem minerava o ouro deveria pagar 1/5 para a Coroa Portuguesa, hoje, de acordo com o Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário, a carga tributária brasileira chega a quase 40% do PIB, ou praticamente dois quintos de nossa produção. Assim, a carga tributária que nos aflige é de praticamente o dobro daquela exigida por Portugal à época da Inconfidência Mineira, o que significa que pagamos hoje "dois quintos dos infernos".
Dom Pedro II, o rei que foi deposto e expulso do país, após um golpe militar do qual o povo não tomou parte e que foi feito por pura sede de poder, governou o Brasil por 49 anos e nos últimos anos de seu governo era sorrateiramente atacado pela imprensa marrom, que manipulava a opinião pública.
Ainda hoje, Dom Pedro II é um dos políticos mais admirados do cenário nacional, e é lembrado pela defesa à integridade da nação, ao incentivo à educação e cultura, pela defesa à abolição da escravidão e pela diplomacia e relações com personalidades internacionais, sendo considerado um príncipe filósofo por Lamartine, um neto de Marco Aurélio por Victor Hugo e um homem de ciência por Louis Pasteur e ganhando a admiração de pensadores como Charles Darwin, Richard Wagner, Henry Wadsworth Longfellow e Friedrich Nietzsche. 

Durante todo o seu reinado, o Brasil viveu um período de estabilidade e desenvolvimento econômico e grande valorização da cultura, além de utilizar o patriotismo como força de defesa à integridade nacional. 
O último imperador do Brasil construiu em torno de si uma aura de simpatia e confiança entre os brasileiros.
Dom Pedro II amava tanto o Brasil, que pouco antes de morrer, no exílio, na França, ele pediu para que colocassem um pouco de terra do Brasil em seu caixão (não consigo imaginar nenhum político brasileiro com tal patriotismo).
A foto que você vê abaixo é dos sobreviventes do massacre de Canudos, cometido durante a... REPÚBLICA! Isso mesmo. Canudos era uma comunidade pacífica de sertanejos pobres que ali tentavam sobreviver e, logicamente, não pagavam impostos.
O governo da República recém-instaurada precisava de dinheiro para materializar seus planos, e só se fazia presente no Sertão pela cobrança de impostos. A escravidão havia acabado poucos anos antes no país, e pelas estradas e sertões, grupos de ex-escravos vagavam, excluídos do acesso à terra e com reduzidas oportunidades de trabalho. Assim como os caboclos sertanejos, essa gente paupérrima agrupou-se em torno do discurso do peregrino Antônio Conselheiro, acreditando que ele poderia libertá-los da situação de extrema pobreza.
O exército brasileiro exterminou essa comunidade, inclusive mulheres e crianças. Esta é a foto de quem sobrou. Não se tem notícia de que tamanha chacina tenha sido cometida no governo de Dom Pedro II, o tal do qual nos livramos para agora "celebrarmos" a república. Eh! Viva!
Honestamente? Eu não tenho nada a comemorar. Principalmente quando olho pra Brasília e vejo corrupção, políticos como José Dirceu em meio a tantos outros saindo ilesos de seus crimes contra a nação, colocando NOSSO dinheiro na Suíça, como fez Maluf, que é procurado pela Interpol, e tantos outros.
Se antes tínhamos apenas uma família real, hoje temos centenas de deputados e senadores que não amam o Brasil, nem os brasileiros, somente a si próprios, que jogam milhões de nossa fortuna pelo ralo e sugam a nossa força de trabalho, como sanguessugas traiçoeiras, a pior raça que poderíamos imaginar para o governo do nosso querido Brasil.
Dia da Proclamação da República? Pra mim está mais pra Dia de Finados.

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Mortes no trânsito

Existe algo de muito doentio em mães que protegem demais seus filhos, privando-os de qualquer dissabor, de qualquer "não", e mentindo pra eles quando eles não são tão bons em algo, simplesmente pra não lhes "abalar a auto-estima".
Tenho visto muitos acidentes no Brasil. Muita gente morta por filhos mimados na faixa dos 18 aos 21 anos, como foi o caso recente acontecido em rodovia próxima a Catanduva, que terminou na morte de uma menininha de 8 anos.
Nesses casos, geralmente o infrator é acusado de "homicídio culposo" (sem dolo, sem intenção). Felizmente, tenho visto uma tendência de os promotores entenderem o ato como homicídio doloso, com intenção de matar, considerando que a pessoa que dirige bêbada ou que dirige imprudentemente está ciente dos riscos e de que pode matar alguém.
A resposta da mãe do homicida ao saber que o filho continuaria preso? "É o que dá ser honesto. Meu filho não fugiu, ficou lá".
Ah... entendi... era pra ele ter fugido, né, mamãe, conforme a "senhora" certamente o ensinou e o acobertou todos esses anos. Mas acredito que pelo trauma de ver a menina morta, desta vez ele não pôde. O filho, afinal, superou o senso ético e moral da mãe.
E então me lembrei de que quem vinha me pagar a indenização pela morte do meu marido (cerca de 1000 reais em 10x), todos os meses, não foi o acusado de homicídio culposo (acidente acontecido em 2006). Foi a mãe dele, todos os meses, em mais uma tentativa de proteger o filho de mais esse "dissabor". Ele nunca teve a coragem de me encarar pra me falar a verdade e pedir perdão como se deve. Mesmo assim eu é que tive que tomar a iniciativa e dizer que já o tinha perdoado, mas eu sei bem a diferença entre arrependimento e remorso. E sei que muitos não sentem nem isso. Só sentem pena de si mesmos. "Coitadinho... está preso... não teve a intenção".
Coitado é quem perde um pai, uma mãe, um filho, um marido, qualquer amor que seja.
Acredito que a dor no peito por causar tamanha dor a alguém a mim só seria aumentada se eu não recebesse qualquer tipo de punição. O normal de alguém que causa dor a outro é tentar pagar e fazer o máximo possível pra amenizar essa culpa, pra melhorar a vida de quem ela prejudicou. Mas infelizmente o que vemos no Brasil são pais lenientes e filhos abobados, prontos a usar o carro como arma, pra tirar a vida de quem faz tanta falta neste mundo.
Eu espero que os "acidentes", que não são, nem nunca foram, meros acidentes, e sim atos de irresponsabilidade que culminam em assassinato, comecem a ser punidos com o mesmo rigor de quem porta arma sem autorização e por consequência fere alguém com isso.
A população está "desarmada". Será? E esses carros por aí afora, fazendo mais e mais vítimas e entupindo os hospitais? A vida tem que ter valor. E só vai ter valor quando eles pagarem. E caro.

sexta-feira, 28 de junho de 2013

O telefone e eu



O meu telefone celular é mesozóico. Logo logo estarei colocando ele no e-Bay pra colecionador de antiguidades. Ele não faz nada - quero dizer, não tira foto, não filma, não conecta internet, não dança, não representa, nem sapateia - mas todo mundo me acha nele. Sem falar que ele já caiu no chão 100 vezes e o bichinho resiste. Já dizia a minha avó: vaso ruim não quebra. Ele também tem habilidades sobrenaturais. Ele é médium. Só recebe. E eu tenho sobrevivido. Não é que eu não goste de tecnologia. Eu gosto dessa proximidade que a internet nos traz, da velocidade de informações, etc, mas ninguém até hoje conseguiu me convencer a comprar um celular caríssimo com mil e uma utilidades. E quando alguém vem todo pomposo me mostrar o celular novo eu me esforço pra fazer cara de AHHHHH OOOOOH. Eu tento imaginar que aquela coisa sem graça, cinza, é um anel de pérola negra ou um colar de esmeraldas, sei lá.
Sei que ontem a Claro me mandou uma mensagem dizendo que se eu não pusesse crédito eles cancelariam meu número. Comprei 8 reais na Banca do Rossi e tenho que ligar pra "alguéns" até dia 7 de julho. Mas, meu Deus, pra quem vou ligar? No trabalho uso telefone da empresa. Em casa uso o fixo ou falo pela internet. Em casa quero sossego e ver meus filmes (me liguem em caso de emergência só, tá?). Pra quem vou ligar, santo pai? Estou pensando seriamente neste assunto... Por isso não estranhe se eu ligar pra você com uma conversa assim: "tá calor hoje, hein?". Ou então: "e aí, tudo bem?". Eu não sou tão altruísta assim. Só odeio desperdício. Quero aproveitar os benditos 8 reais que eu gastei sem querer.
Aí eu olho pra Norma Jean glamourosa fazendo a maior pose com esse telefonão de fio de rabo de porco, como se atender um telefone fosse um a-con-te-ci-men-to (e era) e eu sinto um banzo... mas um banzo... Saudade do que nunca vivi, né, porque enquanto ela atendia esse telefone minha existência pululava em algum lugar do cosmos esperando a hora certa de encher a pança da dona Tereza.
Eu só queria que o telefone às vezes voltasse a ser um acontecimento, aquele trimmmmm hitchcockiano, aquele reeeeeec reeeeeeeec daquele círculo de plástico rodando enquanto a gente discava os números naquele telefone arredondado. O chic era ter o quadradinho. Não, pensando melhor, o chic era ter aqueles de novela que a Odette Hoitmann abria aquela partezinha dobrada pra poder falar. Ufff o ápice da modernidade. A cara da riqueza. E hoje a gente ri disso. Pois bem. Vão rir de vocês também, viciados em celular, tablet ou sei lá que coisa mais.
Mas pra finalizar eu só queria... eu só queria mesmo que a gente pudesse voltar a ter uma conversa decente olho no olho sem ser interrompido pelo Luan Santana se esgoelando no celular. Eu só queria me reunir com meus amigos em volta duma mesa de bar, contar histórias, filosofar, rir, em vez de falar com as paredes enquanto todo mundo com seus respectivos aparelhos checa e responde mensagens.
Eu só queria mas... peraí, meu telefone tá tocando. Volto já.

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Uma questão de educação




Nos meses de abril e maio comemoramos algumas datas muito importantes, que são o Dia do Índio, o Dia do Trabalho e o Dia das Mães. Tentarei entrelaçar todas elas sob uma única ótica: a da educação. Seria possível? O que um índio, o trabalho e uma mãe teriam em comum para que propuséssemos uma reflexão sobre o problema da falta de educação no Brasil?


Muito. Explicarei. E quando me refiro à educação não me refiro à acadêmica, ao diploma na parede, às instituições de ensino, aos títulos de mestrado e doutorado acumulados. Estes são importantes, sim, mas o que está em pauta aqui é a educação num sentido muito mais amplo e básico. Eu me refiro àquela educação que faz de nós seres humanos dignos de sermos chamados civilizados, seres humanos que cooperam para uma sociedade construtiva. Àquela educação que permite um velhinho analfabeto nunca esquecer de dizer ‘bom dia’, ‘boa tarde’, ‘boa noite’, ‘muito obrigado, ‘Deus te abençoe’. Àquela educação que falta a muitos jovens de hoje, que não respeitam as leis de trânsito, que não sabem nem mais cumprimentar, que não cedem o lugar aos idosos, que não respeitam faixa de pedestres, que andam em alta velocidade e só faltam atropelar alguém; que escutam som alto, sem se importar com as pessoas que estão próximas; que reagem com agressividade, que não conseguem falar sem dizer um palavrão; que não se esforçam no seu primeiro emprego para progredir, que não querem saber de aprender, que não têm um plano de vida, que não acreditam em nada, que não seguem a um código ético definido, que relativizam tudo, que não se sujeitam a nada difícil, nem como começo de carreira; que querem enriquecer pelo caminho mais fácil, não necessariamente o mais honesto; que premiam a esperteza e a preguiça dos que enriquecem passando a perna nos outros ou em ridículos reality shows, desprezando a sabedoria e o trabalho que lhes renderão frutos muito mais duradouros; que interrompem uma conversa séria para atender o celular e deixar a pessoa à frente com cara de tacho; de meninas que estão perdendo a sua feminilidade e de meninos perdidos que já não sabem como reagir para agradá-las, pois não sabem se querem ser tratadas como iguais, abrindo mão de alguns privilégios, ou se querem continuar com os privilégios do ‘ser mulher’. Afinal, o que está acontecendo com a nossa juventude?


A pergunta parece um tanto clichê. É certo que em todos os momentos históricos da humanidade a juventude foi sempre incompreendida e rechaçada, enquanto os mais velhos torciam o nariz para suas novas ideias. Mas eis aí a questão. E não é que eles tinham ideias? E os jovens de hoje? Será que têm algo a dizer? Ou só sabem reproduzir culturas de massa ocas, de lek lek pra baixo?


Onde não há educação, prevalece a arrogância. Falemos então em trabalho. Temos visto no Brasil uma elite ou uma quase elite que pensa ser educada, mas que destrata os outros. Profissionais que pensam que podem desmerecer outras pessoas, simplesmente porque são mais humildes ou não têm um curso superior. Um porteiro na Holanda não se considera inferior a um gerente. Um prestador de serviços braçais é tão valorizado quanto um professor doutor. Fora do ambiente de trabalho, nada impede de irem ao mesmo bar, tomarem suas cervejinhas juntos. Ninguém olha o outro por cima. Cada trabalho tem o seu valor. Profissões mais especializadas pagam mais, mas não significa que um salário maior torna a pessoa melhor. Enfim, ser educado é uma questão de princípios e não de interesse ou vaidade.


E o que os índios têm a ver com isso? Bem, sempre foram chamados de selvagens, não é verdade? Mas será que os selvagens destruidores da natureza e sem educação não somos nós? Nós nos achamos tão civilizados, mas será que as pessoas sabem que numa aldeia indígena quando tem um falando não se ouve um pio? A tribo toda, inclusive as crianças, ficam em silêncio, ouvindo o que o outro tem a dizer. Incrível como na nossa sociedade dita civilizada está cada vez mais difícil ter um diálogo normal, onde um fala, pára e escuta, o outro argumenta, expõe seus pontos de vista até o fim e é respeitado, e só aí então o outro responde, sem se alterar ou elevar o tom da voz.


E é aí que entra a educação familiar que depende tanto da figura da mãe. As famílias estão muito omissas, delegando a responsabilidade a professores, ao Estado. A educação de verdade dá lugar ao consumismo desenfreado, onde soterrar os filhos de presentes preenche o vazio deixado pela culpa da ausência e do tempo que não foi gasto com eles, para lhes ensinar, para lhes responder perguntas, para lhes transmitir conhecimento e amor.


Não podemos ficar calados diante disso. Temos que fazer alguma coisa. E outro dia eu fiz. Estava no ônibus, cansada, voltando do trabalho, quando um jovem ouvia um funk horrível em alto volume. Aparentemente outras pessoas que estavam no ônibus estavam incomodadas, mas ninguém falava nada. Foi então que eu, calmamente e em baixa voz, lhe pedi: “O senhor poderia diminuir o volume da sua música, por favor?”. Corri o risco de levar um xingo, eu sei. Mas tem horas que temos que correr riscos se queremos mudar o mundo. E provavelmente não mudaremos o mundo, mas, se cada um conseguir mudar a sua rua ou que seja a sua própria casa, já estará bom demais. O caso é que o rapaz da música alta ficou visivelmente constrangido com o meu pedido e imediatamente, para minha surpresa, desligou o aparelho. Quando chegou o meu ponto, o rapaz ia descendo no mesmo ponto. Cheguei a ficar com medo e pensei: “esse cara vai me falar algum despautério quando eu sair daqui”. Mas eis que ele se aproxima e diz num tom amigável: “Desculpa, viu, moça”. E eu mais uma vez surpresa respondi: “Está tudo bem”. Quem sabe nem tudo está perdido.

quinta-feira, 21 de março de 2013

O beijo da morte




As últimas palavras de Hugo Chávez antes de morrer: "Eu não quero morrer, não me deixe morrer".
Quais seriam as nossas últimas palavras no momento final, se tivéssemos consciência para proferi-las?
É certo que o apego à vida e o medo da morte são considerados naturais. Mas nós cristãos não devemos temer a morte. Devemos amar a vida e vivê-la bem, pois só quem a vive bem e honestamente pode morrer bem. Sim, é possível morrer bem. Podemos temer a dor e o sofrimento. Podemos não querer nos separar dos que amamos e temer pelo que será deles se nos formos desta vida, mas todo cristão pode e deve rir da cara da morte e quando ela vier nos beijar, como nesta escultura num cemitério de Barcelona, poder dizer: "Oh, morte, onde está a sua vitória?".
Cristo venceu a morte por nós na cruz, morrendo e ressuscitando ao terceiro dia e aparecendo aos discípulos em corpo glorificado na forma como o conheceram para nos mostrar a sua vitória sobre a morte e a vitória que ele conquistou também para nós, seus filhos. A essência do Cristianismo não é a cruz, não é a morte de Cristo. A base forte do Cristianismo é a ressurreição da alma e do corpo. Sem a crença nisso a nossa fé é vã, como pregou Paulo aos filósofos gregos, os quais também acreditavam na vida após a morte e na alma, mas o que intrigou os gregos, a "novidade" que Paulo vinha contando, de fato, era não somente a ressurreição da alma, mas também a do corpo, em tempo oportuno, que só cabe a Deus saber.
Sim, você verá seu pai, sua mãe, seus amados e entes queridos que já se foram desta vida para o céu. E os reconhecerá com seus corpos. Glorificados, sim. Eternos, sim. Mas corpos. Corpos que, no final, venceram a morte, como pregou há cerca de 100 anos o pregador norte-americano Spurgeon, cujo estudo indico que pesquisem e leiam na internet.
É preciso portanto estar preparado para tudo. Preparado tanto para a pobreza quanto para a riqueza. Preparado para a união e para a solidão. Preparado para a vida e para a morte. E essa preparação é interior, o nosso coração tomado pelo Espírito Santo que nos garante a vida eterna, na importância ao que a traça não consome e o ladrão não rouba.
Diz a Bíblia que um homem rico era tão rico que já não havia espaço para guardar tudo que tinha, de modo que construiu celeiros enormes para poder acumular tamanha abastança. E após fazer tudo isso, pensou: “ah, agora posso descansar, estou feliz”. Mas eis que Deus naquele mesmo dia lhe disse: "Louco, esta noite te pedirão a tua alma. E o que tens preparado para quem será?".
O que você tem construído nesta vida? Tesouros na terra ou tesouros no céu? Suas atitudes são condizentes com as de um cristão verdadeiro? São atitudes de misericórdia e de amor para com o próximo? Seu poder e sua riqueza para quem será? Haverá algo além disso quando a morte chegar? Ou só sobrará o desespero traduzido na súplica de alguém que clama: "eu não quero morrer, não me deixe morrer, eu não posso morrer, eu não estou preparado para isso, porque até então eu só pensei nesta vida, eu não sei o que me aguarda daqui pra frente".

O amor tem olhos de águia


O maior mito é o de que o amor é cego. O amor nunca é cego. A paixão é cega, porque a paixão é uma projeção de nossas próprias expectativas numa pessoa que aparentemente amamos, mas que apenas nos atrai e que na realidade não existe da forma como gostaríamos que ela fosse e muito provavelmente nunca será. O amor enxerga muito bem, ouve muito bem, sente muito bem. O amor é consciente, nunca um ébrio, porque para existir precisa ser real, e para ser real precisa ser correspondido, e para ser correspondido precisa de ações, porque só o que fazemos diz o que realmente somos e só se pode amar aquilo que conhecemos, reconhecemos, aquilo que é de verdade, aquilo que é bom em essência e sinceridade. Somos o que fazemos e não o que parecemos. Qualquer coisa que fuja disso é doença, obsessão, tara. O amor tudo sofre, tudo crê, tudo espera e tudo suporta, não arde em ciúmes. O amor não é mesquinho, não se ensoberbece, não se alegra com a injustiça, mas se alegra com a verdade. Sofre porque um dia o outro morre. Crê porque um dia a gente se encontra de novo. Espera pela fé na outra vida. Suporta porque é realmente capaz de amar na saúde e na doença. Não tem ciúmes, porque o amor torna dois um só e seria ilógico ter ciúmes de si mesmo.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Mulheres: seus direitos e deveres


Chegando ao mês da mulher, é tempo de debater os direitos e deveres das mulheres. Deveres, sim, pois um ser humano que pleiteia para si direitos iguais deve estar preparado para o cumprimento de deveres. E digo isso porque vejo que muitas mulheres só querem o “venha a nós” e não o “vosso reino”, após me defrontar com tantas manifestações públicas feministas que envolvem principalmente a relação da mulher mãe com seu filho, bebê ou feto, que seja.
Seria o bebê uma mera extensão do corpo da mãe? Assim afirmam as abortistas de plantão, que enchem a boca para dizer que são donas de seus próprios corpos e não podem ser tolhidas do direito de extirpar dele o que bem quiserem, seja um nódulo, uma unha encravada ou um inconveniente feto.
João Pereira Coutinho, em seu artigo para a Folha, do dia 4 de fevereiro, aborda outra questão: a mania das mães de aluguel. Cada vez aumenta mais o número de mulheres pobres que alugam sua barriga. Um filho pode ser comprado por cerca de US$ 20 mil, na Índia, “como se compra uma mala Luis Vuitton”, compara Coutinho.
Como diz o mesmo Coutinho, parafraseando Kant: “Os seres humanos devem ser tratados como um fim em si, não como um meio para”. Não como um meio para prender o parceiro, não como um meio para realização pessoal, não como um meio para resolver o meu problema (no caso do aborto). Um ser humano em gestação é uma vida à parte e como tal deve ser preservado. Não estão sendo considerados os efeitos psicológicos futuros desse mercantilismo em torno da existência de um novo ser.
Temos falado muito em direitos. Tudo é relativo e cada um tem uma opinião que deve ser respeitada acima de todas as coisas. Será mesmo? Será que desejar é automaticamente passar a ter o direito? Inclusive o direito de se aproveitar de uma situação oportuna? Neste caso: o parco poder econômico de uma mulher carente e que, embora voluntariamente doadora, o faz por dinheiro, o que leva a pensar que se sua situação fosse a ideal não recorreria a meios tortuosos.
O argumento para avalizar o novo mecanismo de “adoção” é de que a doação do ventre e do óvulo é voluntária, mas até que ponto vai a liberdade de escolha de uma mãe desesperada em condição de miséria e educada em total ignorância? Impera apenas o direito da mãe rica, de comprar o bebê. Quais são exatamente os reais direitos da mãe que vende sua barriga e seu óvulo?
Voltando ao aborto, um dos argumentos mais toscos para justificá-lo é o matemático. Simples assim: com o aborto legal ter-se-ia a quantia de X mortos (os fetos), enquanto com o aborto ilegal temos a quantia de XX mortos (os fetos, que morrem de qualquer jeito, na ilegalidade, e as mães, que morrem por decorrência de um aborto mal feito). Então, com base nesse argumento, melhor seria legalizar o abordo e diminuirmos as mortes. Certo? Não parece lógico? Será que a estatística é a única fonte aplicável nesse caso?
A pura matemática vale para problemas de ordem econômica e financeira, mas não deve jamais ser o princípio cabal para questões éticas, que envolvem situações tão complexas, como a vida de seres humanos e tudo que o envolve, que vai muito além do cálculo simplista. Estamos no perigo de nos aproximarmos ainda mais de uma sociedade fascista, que não vê mal algum em simplesmente eliminar alguém porque é mais fácil eliminar do que ter de lidar com ele.
Criticamos os maias e outros povos tribais porque costumavam fazer sacrifícios para acalmar os deuses. No raciocínio deles, a solução para o problema da falta de chuvas ou das chuvas excessivas ou de qualquer intempérie que estivesse ameaçando a sobrevida da tribo, era perfeitamente normal. Matematicamente então nem se fala! Em vez de se perderem milhares de vidas, perde-se apenas uma. Os deuses se acalmam com o sangue derramado e fica tudo bem. Todos sabemos que tudo isso não passava de uma crendice tola, mas mesmo se fosse verdade, ainda que fôssemos regidos por deuses lunáticos, o sacrifício forçado de uma vida para salvar as demais seria louvável? Aceitável? Ético? Poderíamos defini-lo assim? Pensem nisso.
Existem muitas maneiras para se evitar uma criança, mas, ainda que todas elas tenham falhado, a simples rejeição da mãe não pode ser argumento suficiente para um assassinato. Pois se o óvulo fecundado, como tentam provar, ainda não é humano, então o que ele se tornará no futuro além de humano? Um dinossauro? Um ornitorrinco?
Essa não é a maneira certa de coibir o nascimento de crianças indesejáveis. Devemos procurar por outros caminhos. O caminho da reestruturação das famílias, o da valorização da mulher, como mulher que é. Que ela não busque ser igual ao homem só no pior. A mulher deve ser livre para ter uma carreira e ser reconhecida à altura de sua competência, tanto quanto o homem, mas às vezes penso que muitas mulheres foram além e quiseram imitar o homem em seu pior. O homem fuma? Vamos fumar três vezes mais. O homem bebe até cair? Vamos virar bebuns também, falar alto, agir como um moleque de rua, que é o que vejo em frente a muitas escolas. A feminilidade, que é tão preciosa, jogada às favas.
Ser respeitada como mulher é ter direitos iguais, não é ser igual. Ninguém é igual a ninguém. E graças a Deus. Marilyn Monroe dizia: “A mulher que quer ser igual ao homem tem falta de ambição”.
E para as que querem ser iguais, fica o recado: que estejam então também dispostas a pagar o preço. Que não reclamem depois se o pai do filho se negar a assumir a criança. Se a mulher tem direito de rejeitá-la, por que o homem não teria? Afinal, não somos todos iguais?

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Preconceito e prejuízo de um lado; gentileza e lucro de outro


O caso do garoto negro filho de pais brancos discriminado em uma loja da BMW deve levar comerciantes a refletirem se o atendimento em suas lojas tem sido pautado pelo preconceito. Se sim, preparem-se para o prejuízo. Se estão atendendo bem e com gentileza (tema do próximo Encontro da Mulher Empresária de Catanduva), preparem-se para os lucros.
A rádio CBN fez uma pesquisa colocando dois repórteres, um negro e um branco, para serem atendidos em lojas do comércio do Brasil. Os dois de idades próximas, vestindo roupas semelhantes. O tratamento dado ao negro foi pior em grande parte dos estabelecimentos comerciais cariocas. Em uma loja de roupas masculinas, ao negro foi oferecido um terno mais barato.
Preconceito é sinônimo de prejuízo em inglês (prejudice). Como bem disse o economista Marcelo Miterhof, articulista da Folha, “evitar comer um queijo mofado pode ser sensato, mas corre-se o risco de desprezar uma iguaria”.
Atendimento bom é atendimento bom para todos, mas no Brasil ser negro é sinônimo de ser pobre. Muitos negros são mal atendidos porque o vendedor pensa que ele não terá condições de comprar algo de grande valor. Outros ainda são julgados pela roupa. Quando trabalhei numa concessionária de carros circulava uma história de que um senhorzinho de aparência caipira, trajando roupas gastas e chinelos, apareceu na loja interessado nos carros mais caros e quase não lhe deram atenção. No dia seguinte ele voltou e comprou o carro mais caro. E à vista! Era um rico fazendeiro das redondezas. Como se vê, pré-julgar nunca é bom. Mas ainda que esse senhorzinho fosse mesmo tão simples e pobre quanto suas roupas denunciavam, não mereceria ele um bom atendimento? Afinal, quem faz bem feito faz bem feito como padrão de vida, não importando a quem. Não seria este o sentido de bondade e gentileza que tanto buscamos atingir e que nos faz humanos? Mesmo uma criança pedindo esmolas também mereceria um olhar mais atento, em vez de ser simplesmente posta pra fora.
A pobreza do país é um incômodo com o qual ninguém gosta de lidar, mas o egoísmo e a ignorância dos que podem fazer alguma coisa podem sair caro demais. Para todos.


quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Megan, o Carnaval e o álcool no Brasil



Todo mundo reclamando da crise, certo? Aqui, na Espanha e na Ilha de Java. Mas dinheirinho pra sua santa cervejinha de todo final de semana todo mundo tem. Pois bem, pois pasmem: enquanto a maioria chegou no final de 2012 com o dinheiro contado, as cervejarias do Brasil nunca lucraram tanto. Para eles, é como se a palavra ‘crise’ só existisse na vida dos paspalhos que no seu doce álcool vêm afogar suas mágoas. Somente na primeira década do século 21, para se ter uma ideia, apesar de crise econômica mundial, que já era gritante, nunca no Brasil se vendeu – e se BEBEU, naturalmente – tanta cerveja. A produção de cerveja no Brasil dobrou. Isso mesmo: DOBROU! Você aí que trabalha em qualquer ramo de vendas... está experimentando sucesso semelhante? Isso deixou todas as fabricantes de cerveja do mundo interessadíssimas em investir no Brasil. Bom, certo? Sim... venham para o país dos bebuns. Talvez em pouco tempo estaremos fazendo côro com os russos caindo de bêbados no asfalto gélido e fazendo papel de ridículos. Só que aqui se caírem no asfalto vão fritar.
Mas que chato este artigo, não? Que mal faz uma boa cervejinha? Bem... pergunte às numerosas famílias brasileiras destroçadas pelo álcool. Ah... mas é só uma cervejinha... Bem, certamente que ninguém começou a dormir na sarjeta da noite pro dia.
E os brasileiros, pelo que indicam as pesquisas, estão bebendo muito, estimulados pela maciça propaganda do álcool no Brasil, financiada pelas milionárias fabricantes. Estranho no Brasil só o álcool não ser droga ilícita. Será que tem a ver com esses milhões todos? Será? Será? Oh, meu Deus, acho que até o bebum da esquina saberia responder. Em muitos países, a propaganda de bebida é proibida, não se pode beber em locais públicos, pela propaganda negativa às crianças, e a venda de bebida é regulada, restrita a determinados locais e controlada por quem a vende no balcão! O motivo: pela lei, caso um acidente aconteça porque o motorista estava alcoolizado, o estabelecimento que o vendeu também responderá por isso.
O Brasil passou a ser o 3º maior produtor mundial de cerveja, atrás apenas da China e dos Estados Unidos. E as pessoas aqui começam a beber cada vez mais cedo. Podem não ter dinheiro às vezes pra um jantar decente, mas pra sagrada cerveja sempre têm.
As indústrias de cerveja geram emprego e movimentam a economia? É evidente que sim, mas a que custo? Uma pesquisa no Brasil revelou que o álcool está presente em 75% das mortes no trânsito. Fora isso, mais de 30.000 crianças nascem com déficit ou distúrbio mental decorrentes da SAF (Síndrome Alcoólica Fetal, uso de álcool na gravidez). Milhares de leitos hospitalares clínicos e psiquiátricos, além dos do CTI e das Emergências, estão ocupados por pacientes com doenças decorrentes do álcool ou por vítimas de agressões e ferimentos causados por pessoas alcoolizadas. Famílias desestruturadas pelo álcool jogam crianças na rua diariamente. Crianças sem educação e sem amor que no futuro poderão roubar e até matar. Estima-se que os gastos gerais com os problemas relacionados com o uso, abuso e dependência do álcool podem chegar a mais de quatro vezes o orçamento do Ministério da Saúde, algo em torno de 7% do nosso PIB.
Mas que pataquada é esta que eu estou falando, não é mesmo? Quem está escrevendo isto é uma pobre jornalista que nem bebe cerveja, mesmo depois de ouvir tantas vezes na faculdade: “começa bebendo mesmo sem gostar que com o tempo você gosta”. Mesmo depois de ouvir incontáveis vezes que eu não sei me divertir.
Bem, gostaria de dizer que eu sei me divertir muito bem, sim, e lúcida, o que é muito melhor. Em segundo lugar, responda-me que outro produto você conseguiria vender com este argumento: “senhor cliente, comece a usar mesmo não gostando, que com o tempo o senhor gostará”. Não sei por que isso me lembra a palavra “vício”. Senão por que a minha primeira e consciente resposta não seria boa o suficiente?
Mas tudo bem, não está mais aqui quem falou. Vou parar por aqui. Ah? O que a Megan aí da foto tem a ver com tudo isso? Bem, é que este ano ela será a garota propaganda do Camarote da Brahma no Carnaval 2013. Receberá a bagatela de quase R$ 5 milhões por isso. Ano passado, encheram os bolsos da Jennifer Lopez e este ano quem encherá os bolsos será a bela Megan. JLo nem fez questão de fingir que estava se divertindo. O que se pode esperar da chatinha Megan? Nada. Só esperam que venha e pose, que é o que sabe fazer de melhor. Bom pra ela, né? Cujos bolsos já estão cheios faz tempo. E bom pras cervejarias também, que pelo jeito estão com os bolsos tão cheios que podem pagar cachê pra artistas desse calibre. E pra você? É bom? Antes de responder, pare e se pergunte se é possível alguém com uma conversa mole de bêbado se dar bem com alguma daquelas mulheres que eles mostram nas propagandas. Olhe bem pra foto da Megan, fazendo biquinho e mandando beijo: “Bye, babe, bye, bebum comigo não tem chance”.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Já não se fazem mais dias como os de antigamente?


“Já não se fazem mais dias como os de antigamente”. Naquele tempo é que era bom”. “Hoje em dia nada presta, já não há mais respeito, as pessoas não aguentam mais a violência, já não se respira mais poesia no ar”. “Os cantores não cantam e nada se cria, tudo se copia”. Assim como estas frases há tantas outras que nos mostram como a sociedade costuma ser muito mais complacente com os leões que já matou. Explico: se matamos um leão por dia, velamos nossos felinos de antigamente com uma dose de saudosismo muito maior.
Quando um novo ano começa, as pessoas tendem a ficar ainda mais saudosas, relembrando o que passou, refletindo sobre as oportunidades não aproveitadas, as pessoas ou coisas perdidas, para as quais talvez não tenham dado o devido valor. Guardam boas memórias para sempre em seus corações e, quanto mais o tempo passa, com mais saudade se lembram desses acontecimentos marcantes, como se no momento em que os viveram não as tivessem experimentado com a devida lucidez.
Admito: já não se fazem mais artesanias como as de antigamente. Entornamos uma sopa instantânea para enganar a fome antes sossegada nos molhos de ervas das avós, que ainda tinham o bálsamo de não ouvir funk. As mulheres eram mais girly, mais comportadinhas – será? Que responda Nelson Rodrigues – mas será que vivemos pior do que no passado? Parece que o tempo corria numa velocidade mais lenta, até os filmes de antigamente eram mais lentos. Quem consegue assistir o “Anjo Azul”, com as celebradas pernas de Marlene Dietrich, sem bocejar, só pra posar de intelectual?
E que me desculpem os saudosistas de plantão, mas “Aquarela do Brasil” não é nada do outro mundo. As letras de hoje em dia são ocas, mas “esse coqueiro que dá coco” é de uma originalidade incrível, é isso? Alguém já viu coqueiro dar manga?
E também não acho que as pessoas eram melhores no passado. As regras da sociedade talvez fossem mais rígidas, mas o que interessa não seria o coração? Nelsinho novamente que o diga.
Será que o nosso presente ou nosso passado recente é ou foi assim tão ruim? É preciso também aprender a contar os nossos ganhos, ainda que sejam poucos. E será que são tão poucos assim? Temos a tendência de nos acostumarmos com tudo de bom que nos rodeia. Assim, com o tempo, passamos a não perceber mais a existência deles, como o ar que respiramos. Trabalhamos, vamos às compras, à academia, sem pensar na existência do ar, mas venha alguém nos prender a respiração ou ainda passemos por uma situação de temporário afogamento, para ver o quão difícil é viver sem ar. E assim é com muitas coisas na nossa vida, para as quais não somos agradecidos o suficiente e essa postura revoltada e ingrata diante da vida nos engessa, prejudica o nosso avanço e o nosso viver. No caso dos empregados, impede que eles vejam os benefícios do local onde trabalham, passando a enxergar apenas os defeitos – e nada é perfeito – e assim parece que nada está bom. Se fossem mais gratos e dedicados só teriam a ganhar. Se tivessem mais benevolência para entender o colega, teriam menos intrigas no trabalho. Por parte da classe patronal, muitas vezes também falta o ver o lado positivo, as qualidades do empregado, que acaba desmotivado, pois parece que o chefe só vê nele defeitos e nada que ele faça é bom o suficiente. Por outro lado, muitas vezes falta o reconhecimento necessário, no estímulo ao bom funcionário, e aí, depois que este funcionário buscar por melhores locais de trabalho não se poderá chorar pelo leito derramado.
No contexto de sociedade também é possível tecer alguns parâmetros e deduzir que, sim, hoje vivemos muito melhor do que antigamente, em muitos aspectos. Precisamos pesquisar um assunto ou uma informação? Não precisamos necessariamente nos locomover até uma biblioteca ou a enciclopédias muitas vezes desatualizadas. Temos a internet para pesquisar facilmente. Muitos dirão: ah... mas a internet nem sempre é confiável. É correto. Mas você já parou pra pensar em quantas vezes a internet quebrou seu galho? Aproximou você de parentes e amigos antigos? Fez você conhecer pessoas novas e até um novo emprego?
Indo um pouco lá atrás, vivemos num mundo com comunicação muito mais estreita, onde praticamente todo mundo tem um telefone. E ao menos o mundo ocidental não vive mais sob os grilhões do passado. Ninguém é proibido de usar vermelho, porque esta é a cor permitida apenas para a realeza. Se um dente dói, não é preciso mais arrancá-lo sem anestesia. As mulheres podem trabalhar no que quiserem e votar. São as consumidoras mais influentes. Ninguém é degredado para uma ilha hostil porque roubou um pão, racistas denunciados podem ir parar na cadeia e pessoas com deficiência, apesar das muitas barreiras que precisam ser transpostas, têm muito mais acesso do que antigamente, quando alguém fadado a uma carreira brilhante poderia ser solenemente dispensado se repentinamente sofresse um acidente que o deixasse defeituoso.
E lindo assistir a um filme de época com princesas arrastando seus lindos vestidos, mas hoje temos fio dental (nas praias e na pia), pílula anticoncepcional, ar condicionado, papel higiênico, controle remoto, carros mais possantes, que exigem de nós mais responsabilidade, é certo. Sim, temos mais fast food, mas a comida da vovó ainda está lá se a gente quiser. Temos muitos desafios pela frente, como os teremos agora em 2013, mas temos também tantas possibilidades e tanta liberdade para fazermos nossas escolhas. Que as façamos com sensatez, ética e sinceridade de coração.

João Cabral, os poetas e os exibicionistas


O dia 9 de janeiro foi aniversário de um dos mais importantes escritores brasileiros: João Cabral de Melo Neto. Mas poucos se lembraram. O livro seu que mais me marcou foi “Morte e Vida Severina”, que fala das agruras do nordeste, a seca e seus problemas até hoje não solucionados. E a canção entoada em tantas montagens teatrais até hoje ecoando em minha mente, como o retrato da cruel desigualdade brasileira. Para os que desejavam ser e ter alguma coisa que fosse, restava apenas a morte e pás de terra sobre seus corpos gélidos. “É a parte que te cabe deste latifúndio, é a terra que querias bem dividida”.
Somos uma civilização de massas, eletrônica e consumista e tudo isso mudou muito a maneira do escritor e do poeta se situar no Brasil.
Li – e concordo – que já não temos poetas populares como foi Drummond, cuja estátua hoje se senta insólita diante da praia de Copacabana – vítima até de depredações – como uma lembrança de longe, muito longe.
Os poetas de hoje são anônimos, mas certas coisas só a poesia pode trazer e isso a torna eterna, porque é necessária, porque um mundo sem poesia é trágico e sórdido. Porque precisamos de mais poesias, tanto quanto precisamos de médicos e engenheiros. Porque somos seres humanos e não apenas animais que comem, dançam, brincam e só sabem falar de si mesmos. E sobre isto, João Cabral dizia: “Ninguém é tão interessante para falar de si mesmo o tempo todo”.