terça-feira, 24 de junho de 2014

Esqueça seu passado?


"Esqueça o passado, viva o presente". Esta é a máxima predileta dos que dão conselhos mal vendidos e pendurados nos bancos de dados da inadimplência rotineira. Que me desculpem os entusiastas do 'comamos e bebamos que amanhã morreremos', mas quem quer viver esquecendo o passado não acende nenhuma lâmpada, não faz nem ligação de telefone fixo (que dirá de celular) e vai ao banheiro com uma caixinha de sabugos. Que ninguém se engane. Se houvesse uma guerra nuclear e sobrassem na Terra meia dúzia de funkeiros voltaríamos para a idade da pedra. Então? Disposto a viver no presente? Somos retalhos dos outros, até de quem não conhecemos, até dos que não nos são conterrâneos e muito menos contemporâneos. Quem pensa que a vida é feita apenas de presente, se esquece que um dia o presente também será passado e que no fim de tudo presente, passado e futuro vão se fundir numa coisa só: a sua vida. Seu passado produz pegadas. Alguém pode se encantar passando por elas um dia. Ou não. Isso dependerá de como são suas pegadas. São delicados passos na areia fofa que a onda do mar apaga ou são traços firmes escavados numa rocha açoitada pelo vento? Quem se esquece de seu passado vive numa espécie de transe psicopata ou superficialidade doentia. Doença esta que varrerá para sempre da face da terra a insignificante existência de quem nunca foi sangrado pela dor. As suas pegadas, no futuro, guiarão outros até o que você sempre foi e nunca deixou de ser. O futuro não existe e o presente já é passado, numa fração de segundos. O seu presente é o seu passado. O seu futuro é o seu passado. Você de verdade é o seu passado.

domingo, 22 de junho de 2014

Amor à distância


Hoje eu comprovei porque tenho tanto saudosismo quando passo em frente ao Cine República e vejo aquele prédio carcomido pelo tempo. Quantos bons momentos eu passei ali com o Xuxa... No final dos anos 90, as pessoas tinham muito mais o hábito de ir ao cinema e quando era um blockbuster então... era aquela fila enorme! A maior foi a do Titanic. Teve gente que preferiu sentar no chão do corredor só pra ter a chance de assistir. Voltei pra casa revoltada porque não consegui me concentrar no filme. Quem tinha ficado em pé jogava água em quem estava sentado, pra ver se a gente saía e deixava o lugar pra eles. Alguns jogavam algo pior que água e foi o que nos atingiu naquele noite. Enquanto a Rose tremia de frio no Atlântico Norte eu não via a hora de tomar um banho pra tirar aquele cheiro de xixi. O mais interessante (só hoje eu vejo) é que a despeito dessa ignorância alheia não teve uma briga. Hoje no shopping tinha uma fila enorme pra assistir provavelmente a porcaria de um filme dublado, que hoje aqui parece que os jovens já não estão querendo nem ler em português. Sentei um pouco com as compras num banco pra descansar. Estava próxima àquela aglomeração de pessoas e de repente começa uma briga e eu nem sei dizer por quê. Um bando de moleques que nem saiu das fraldas se achando membros da Yakuza. E aí lá vem o segurança mirrado de terno preto com aquela cara de preocupado atrasado. Não sei se atrasou pra chegar com medo de apanhar. Lá fora as motos dos policiais iam parando. Alguém chamou pra apartar o vuco-vuco. E eu doida pra chegar em casa com meus suprimentos pro isolamento dos meus lençóis. E depois me perguntam por que sou anti-social. Eu não sou. Simplesmente porque 'isso' que está aí não é sociedade. É uma multidão de indivíduos da qual eu não quero fazer parte. Não tenho raiva das pessoas. Só tenho é pena e invejo os bons, que vão reinar com pouco, pois não será preciso muito pra ser melhor que 'isso' aí. Eu só não tenho a menor vontade mais de conhecer gente que não conheço. Mas tenho muito amor no coração. O meu amor à distância é maravilhoso.