quinta-feira, 11 de abril de 2013

Uma questão de educação




Nos meses de abril e maio comemoramos algumas datas muito importantes, que são o Dia do Índio, o Dia do Trabalho e o Dia das Mães. Tentarei entrelaçar todas elas sob uma única ótica: a da educação. Seria possível? O que um índio, o trabalho e uma mãe teriam em comum para que propuséssemos uma reflexão sobre o problema da falta de educação no Brasil?


Muito. Explicarei. E quando me refiro à educação não me refiro à acadêmica, ao diploma na parede, às instituições de ensino, aos títulos de mestrado e doutorado acumulados. Estes são importantes, sim, mas o que está em pauta aqui é a educação num sentido muito mais amplo e básico. Eu me refiro àquela educação que faz de nós seres humanos dignos de sermos chamados civilizados, seres humanos que cooperam para uma sociedade construtiva. Àquela educação que permite um velhinho analfabeto nunca esquecer de dizer ‘bom dia’, ‘boa tarde’, ‘boa noite’, ‘muito obrigado, ‘Deus te abençoe’. Àquela educação que falta a muitos jovens de hoje, que não respeitam as leis de trânsito, que não sabem nem mais cumprimentar, que não cedem o lugar aos idosos, que não respeitam faixa de pedestres, que andam em alta velocidade e só faltam atropelar alguém; que escutam som alto, sem se importar com as pessoas que estão próximas; que reagem com agressividade, que não conseguem falar sem dizer um palavrão; que não se esforçam no seu primeiro emprego para progredir, que não querem saber de aprender, que não têm um plano de vida, que não acreditam em nada, que não seguem a um código ético definido, que relativizam tudo, que não se sujeitam a nada difícil, nem como começo de carreira; que querem enriquecer pelo caminho mais fácil, não necessariamente o mais honesto; que premiam a esperteza e a preguiça dos que enriquecem passando a perna nos outros ou em ridículos reality shows, desprezando a sabedoria e o trabalho que lhes renderão frutos muito mais duradouros; que interrompem uma conversa séria para atender o celular e deixar a pessoa à frente com cara de tacho; de meninas que estão perdendo a sua feminilidade e de meninos perdidos que já não sabem como reagir para agradá-las, pois não sabem se querem ser tratadas como iguais, abrindo mão de alguns privilégios, ou se querem continuar com os privilégios do ‘ser mulher’. Afinal, o que está acontecendo com a nossa juventude?


A pergunta parece um tanto clichê. É certo que em todos os momentos históricos da humanidade a juventude foi sempre incompreendida e rechaçada, enquanto os mais velhos torciam o nariz para suas novas ideias. Mas eis aí a questão. E não é que eles tinham ideias? E os jovens de hoje? Será que têm algo a dizer? Ou só sabem reproduzir culturas de massa ocas, de lek lek pra baixo?


Onde não há educação, prevalece a arrogância. Falemos então em trabalho. Temos visto no Brasil uma elite ou uma quase elite que pensa ser educada, mas que destrata os outros. Profissionais que pensam que podem desmerecer outras pessoas, simplesmente porque são mais humildes ou não têm um curso superior. Um porteiro na Holanda não se considera inferior a um gerente. Um prestador de serviços braçais é tão valorizado quanto um professor doutor. Fora do ambiente de trabalho, nada impede de irem ao mesmo bar, tomarem suas cervejinhas juntos. Ninguém olha o outro por cima. Cada trabalho tem o seu valor. Profissões mais especializadas pagam mais, mas não significa que um salário maior torna a pessoa melhor. Enfim, ser educado é uma questão de princípios e não de interesse ou vaidade.


E o que os índios têm a ver com isso? Bem, sempre foram chamados de selvagens, não é verdade? Mas será que os selvagens destruidores da natureza e sem educação não somos nós? Nós nos achamos tão civilizados, mas será que as pessoas sabem que numa aldeia indígena quando tem um falando não se ouve um pio? A tribo toda, inclusive as crianças, ficam em silêncio, ouvindo o que o outro tem a dizer. Incrível como na nossa sociedade dita civilizada está cada vez mais difícil ter um diálogo normal, onde um fala, pára e escuta, o outro argumenta, expõe seus pontos de vista até o fim e é respeitado, e só aí então o outro responde, sem se alterar ou elevar o tom da voz.


E é aí que entra a educação familiar que depende tanto da figura da mãe. As famílias estão muito omissas, delegando a responsabilidade a professores, ao Estado. A educação de verdade dá lugar ao consumismo desenfreado, onde soterrar os filhos de presentes preenche o vazio deixado pela culpa da ausência e do tempo que não foi gasto com eles, para lhes ensinar, para lhes responder perguntas, para lhes transmitir conhecimento e amor.


Não podemos ficar calados diante disso. Temos que fazer alguma coisa. E outro dia eu fiz. Estava no ônibus, cansada, voltando do trabalho, quando um jovem ouvia um funk horrível em alto volume. Aparentemente outras pessoas que estavam no ônibus estavam incomodadas, mas ninguém falava nada. Foi então que eu, calmamente e em baixa voz, lhe pedi: “O senhor poderia diminuir o volume da sua música, por favor?”. Corri o risco de levar um xingo, eu sei. Mas tem horas que temos que correr riscos se queremos mudar o mundo. E provavelmente não mudaremos o mundo, mas, se cada um conseguir mudar a sua rua ou que seja a sua própria casa, já estará bom demais. O caso é que o rapaz da música alta ficou visivelmente constrangido com o meu pedido e imediatamente, para minha surpresa, desligou o aparelho. Quando chegou o meu ponto, o rapaz ia descendo no mesmo ponto. Cheguei a ficar com medo e pensei: “esse cara vai me falar algum despautério quando eu sair daqui”. Mas eis que ele se aproxima e diz num tom amigável: “Desculpa, viu, moça”. E eu mais uma vez surpresa respondi: “Está tudo bem”. Quem sabe nem tudo está perdido.