terça-feira, 5 de julho de 2011

A cultura do calote

            A inadimplência aumenta a níveis galopantes. Dados informados pelo SCPC Catanduva revelam um aumento de quase 55% nas inclusões, de janeiro a abril deste ano, em comparação com o mesmo período do ano passado. Problemas como o aumento do custo de vida, doença e perda do emprego são alguns fatores que explicam, mas também é muito comum a falta de planejamento.
            Em passeios pelas pequenas propriedades rurais da região Sul, uma das paradas é na propriedade de um antigo produtor de fubá. O neto do primeiro dono, que recebe os turistas, conta detalhes da vida de seus avós imigrantes. Se a nona precisava de xícaras novas, o nono não ia até o banco tomar dinheiro emprestado. Primeiro plantava, depois vendia, e com o dinheiro recebido, depois de comprado tudo que era básico, as xícaras eram compradas.
Não dá pra retroceder. As compras a prazo são uma realidade e muitas vezes até compensadoras e o meio mais fácil que muitos têm para adquirir um bem necessário. Mas não é com bom senso que muitos estão entrando em parcelamentos infindáveis, em contas que não conseguem pagar.
            O mau exemplo vem de cima, do governo que privilegia Carnaval, Copa e Olimpíadas, em detrimento da básica trilogia “educação, saúde, segurança”. É bom investir na cultura, principalmente na que atrai turistas, mas é incompreensível se pensar na promoção de eventos desse porte quando não se tem o mínimo necessário para a população do país.
            Segundo Romário, pra Copa acontecer, “só Jesus Cristo”. E palavra de Romário num assunto desses costuma ter o mesmo peso de um diagnóstico da boca de um grande médico ou de um atestado de cafonice vindo de uma fashionista. Torcemos para que esse caso seja como o do meteorologista – quase nunca acerta.
Com a desculpa de eliminar a burocracia e agilizar, tentaram fazer com que os orçamentos para as obras da Copa permanecessem em caráter sigiloso, o que facilitaria fraudes. Felizmente, a Imprensa cumpriu seu papel e pressionou o governo, fazendo Dilma voltar atrás.
            Incompetência e corrupção são as causas de nosso retrocesso. São incontáveis os maus exemplos de quem, por estar justamente no papel de administrador de nossos impostos, deveria ser o exemplo. E a falta de palavra é um defeito que não escolhe conta bancária.
            Temos que nos mirar nos bons exemplos, atuais ou do passado. Um dos que mais gosto é o do Barão de Mauá. Desde a infância pobre já trabalhador, o jovem Irineu Evangelista de Souza não foi anjo, nem demônio. Foi um homem que sempre achou um privilégio aprender com quem sabia mais e dele tirar o conhecimento para aplicar mais tarde nos próprios negócios, o que fez dele o homem mais rico do Brasil, no século 19, mais rico do que o próprio Império.
            Irineu foi vencido pela política retrógrada, escravagista e dependente do capital estrangeiro, existente no país da época e que perdura até hoje. Após ter decretada sua falência, em 1878, vendeu bens no Brasil e no exterior, até mesmo a casa e objetos pessoais, passando a viver num palacete alugado, para pagar seus credores. Em seis anos, quitou seu último débito. Em 30 de janeiro de 1884, tendo ele já 70 anos de idade, foi pronunciada sua sentença de reabilitação comercial. Irineu, o Barão e Visconde de Mauá, estava com o nome limpo.
            Ele entendia o bem que faz um bom nome e não perdia a esperança de que poderia se levantar, afinal continuava o mesmo empreendedor de sempre. Se naquele momento estava em dificuldades, poderia se reerguer, desde que não perdesse sua integridade. Ele sabia que o ouro é sempre ouro, estando dentro do mais refinado porta-joias ou afundado num lamaçal. Alguém, um dia, vai revirar na lama e ter uma bela surpresa.