quarta-feira, 25 de abril de 2012

A falta de iniciativa é a mãe de todos os fracassos


Dificilmente se pode achar um epíteto mais apropriado que “mãe” quando o que se tem em mente é alguém que age e não fica só de trololó. Mãe, aliás, ganha esse nome exatamente porque “fez”. E é dela todo o trabalho por algo pelo qual, a partir do primeiro ano, quem vai levar os parabéns é o rebento.
Quer quantificar o quanto uma mãe é a função que mais se aproxima do ideal de iniciativa? Imagine que, ao cometer um lapso no trabalho, como perder a hora, voltar um troco errado ou escrever um texto com erro de português, uma pessoa morre. Certamente se buscaria dormir com um despertador em cada borda da cama, conferir o dinheiro trinta vezes e matricular-se imediatamente num curso intensivo de Língua Portuguesa. Pois é esse estresse que acomete as mães, as quais, à menor distração, podem colocar em risco a vida de seus bebês, seres totalmente indefesos num mundo cheio de perigos. Aquela frágil criatura depende de muitas iniciativas maternas.
As mães não têm tempo a perder com discursos vazios. Elas devem colocar a mão na massa. De suas mentes, mãos e pernas depende o alimentar diário de seus filhos, bem como a higiene, a saúde e a educação, e tudo o mais que envolva a formação de um ser humano feliz, bem preparado e de bom coração.
Seria esperar demais? Às vezes sim, pois a vida tem seus mistérios e não é perfeita. Por isso mesmo, muitas vezes, a despeito do esforço materno, não é possível privar os filhos de momentos infelizes, muito menos impedir tragédias ou que o filho tome decisões erradas, prejudicando a si mesmo ou a sociedade.
Trabalho difícil o de ser mãe. Todo trabalhador recebe, ao final de cada mês, o seu merecido salário. À mãe compete se doar por amor, muitas vezes abstendo da própria vaidade em prol do bem-estar do filho. E para ela um beijo, um abraço, uma demonstração de carinho, por mais simples que sejam, não têm preço.
Muito se fala que as mães não precisam se anular. Elas conquistaram também seu espaço como profissionais, reservando um tempo para se cuidarem e mantendo-se belas e atraentes. E tudo isso é verdade. Mas também é verdade que para uma boa mãe vem sempre em primeiro lugar a felicidade do filho. Se todas as mulheres pensassem assim, poucas decidiriam se tornar mães. Porque ser mãe não é projetar suas frustrações, querendo se realizar nas conquistas do filho. Ser mãe é compreender que se deu vida a outro ser humano, com aspirações que podem ser totalmente diferentes das dela e, ainda assim, amar incondicionalmente, um amor que não visa o retorno imediatista e sim a formação do caráter.
As mães nos ensinam muito sobre compreensão, prioridade e iniciativa, algo que anda muito em falta. Vemos hoje em dia pessoas fazendo muitas tarefas ao mesmo tempo, muitas atividades durante o dia, satisfazendo seus egos, mas, ao final de um longo período da vida, o que elas realmente “fizeram”?
A sociedade está perdida em sua montanha de compromissos, andando em direções impostas, dentro daquilo que se configurou como certo ou ideal de sucesso e reforçando destinos infelizes a quem não soube identificar sua própria fórmula de felicidade para, a partir de então, viver a vida priorizando o que é realmente importante, com coragem e iniciativa para agir quando a vida pede mudança, com mais atitude e menos confabulações.
Recentemente, na fila de uma repartição pública, duas mulheres praguejavam, ao ver que, na sala lotada, todas as cadeiras estavam ocupadas, sendo uma delas por um par de sacolas. Uma delas cochichou, com muita raiva: “Essa é boa... agora sacola também senta?”. Eu, que tinha chegado alguns segundos depois delas e ouvi a conversa, diante da inércia das reclamonas, me dirigi até o assento. Não foi preciso nem pedir. Ao me ver, o rapaz educadamente colocou as sacolas no chão e eu me sentei, agradecendo. Talvez aquelas mulheres tenham pensado: “Puxa vida! Por que eu não fiz o mesmo, em vez de ficar falando mal?”. Certamente aquele rapaz colocou as sacolas no assento quando não tinha tanta gente e depois se distraiu. Mas muitas vezes nossa maledicência apática nos cega.
O caso citado é um exemplo muito simples de um fenômeno doentio que acomete muita gente: o praguejar vazio, seguido pela falta de iniciativa. Não adianta esbravejar se você não reclama com a pessoa certa ou no setor adequado, simplesmente para manter as aparências e evitar o confronto. De nada resolve criticar e até falar palavrão, se você não tem um plano para fazer a sua indignação exercer influência na mudança de realidades, seja individualmente, seja unindo-se a grupos de pessoas que compartilham do mesmo ideal para reverter injustiças.
O brasileiro precisa entender de uma vez por todas que não estamos mais sob os anos de chumbo da ditadura, que obrigava a todos a se calarem e engolir em seco toda revolta, guardando para si todo descontentamento. Precisa também deixar de ser individualista e fatalista, achando que nada resolve, que a vida é assim mesmo, bem “Gabriela”, que se todo mundo faz não tem problema, que ser simpático é mais importante que falar a verdade, que viver num mundo de ilusões é melhor do que tentar.
Muitas vezes não queremos sair de nossa zona de conforto e evitamos ao máximo uma conversa frontal e sincera, um passo à frente, uma decisão, uma ação. E então nos esquecemos de que os bons pensamentos devem nos levar a boas iniciativas, para que estas se convertam em hábitos e, ao final, moldem destinos.
Mães entendem muito bem de iniciativas. Mães, com seus almoços e jantares, no “tchic-tchic” de suas panelas de pressão, entendem perfeitamente de hábitos, em suas rotinas estafantes. Mães também entendem muito bem de destino, pois trabalham pelo futuro, na mais desafiante das missões: criar um novo ser humano. Mães só não entendem de “acabativa”. Uma vez ‘mães’, este posto nunca acaba. Iniciativa elas sempre terão, enquanto o filho for filho ou pai de seus netos.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Mate uma pessoa e ganhe uma terapia grátis

Escusas de explicar que o artigo que se desfolha sobre os olhos do leitor teve inspiração imediata nos casos extraordinários da realidade ordinária. Doceira que tentou matar adolescentes com brigadeiro envenenado vai passar por tratamento psicológico. E a frase que me veio à mente foi como um daqueles letreiros fosforescentes de Las Vegas: “Mate uma pessoa e ganhe uma terapia grátis”.
Que me perdoem os profissionais da lei e da psicologia, a quem minhas considerações não passam de um simplismo insuportável, mas confesso que me sinto preterida pela sociedade onde vivo. Sabendo o quanto custa uma terapia pela qual todo mundo, um dia ou outro, desejou ter cacife e tempo pra fazer, me parece um tanto inusitado, para não dizer injusto, que uma pessoa tasque o tal tratamento “na faixa”, depois de uma tentativa de assassinato premeditada e por motivo fútil: a prorrogação de uma festinha de aniversário, para a qual a assassina já teria recebido o pagamento e gasto o dinheiro sem ter preparado os doces. Que me desculpem os acadêmicos a simplicidade cortante de meu diagnóstico, mas o que leva alguém a cometer tal crime com tamanha frieza é doença ou é maldade? De onde vem essa nossa ânsia de agora de rotular com nome de doença o que para mim não passa de doença moral? Se uma criança não pára em sala de aula e não obedece ninguém, ela não é sem educação. Ela é doente, é hiperativa. Se uma pessoa mata outra, também, a maioria das vezes, alega transtornos mentais. Mas ainda não inventaram transtorno mental que deixasse a pessoa obcecada em ajudar os outros. “Fulano não pode ver ninguém precisando de ajuda, que é batata: já abre a carteira”. Alguém já presenciou esse tipo de desordem mental? Se já, por favor me avise.
O egocentrismo e a ausência de sentimentos ajudam a moldar uma sociedade psicopata, onde comportamentos antes condenados são não apenas plenamente aceitáveis como até admirados e desejáveis, como sinônimos de intrepidez nos negócios, espírito de luta e de vitória, esperteza. Não tem problema passar por cima de tudo e de todos, em nome da competitividade, se o que importa é ser bem sucedido e estar no topo. É a lei de mercado, a vida é essa. Não importa se o lugar de destaque na mídia foi conquistado a troco de mentiras e apelações. “Ela é esperta, sabe lidar com as armas que tem”, dirão.
Aos poucos, as pessoas não percebem que estão ajudando a reforçar um comportamento predatório que não age altruisticamente, não age pelo que é certo e justo, mas apenas em nome do que é vantajoso. Numa sociedade assim, a vida não é respeitada.
Constato, tristemente, que embora os brasileiros sejam tão famosos pelo otimismo e por amarem a vida, a despeito das adversidades, a vida, no Brasil, não tem valor.
Familiares do brasileiro morto na Austrália reclamavam, esta semana, não da postura das autoridades australianas, segundo eles, protegendo obviamente os próprios interesses, mas das autoridades brasileiras no país, que não fizeram e que não estariam fazendo nada para solucionar o caso e torná-lo o menos doloroso possível para a família.
Será que o nosso governo valoriza a vida do indivíduo brasileiro ou só dá importância a números brutos e absolutos?
Leio matéria divulgada na edição de hoje do Diário da Região, que diz: “Dengue mata e a Prefeitura ‘comemora’”. Segundo o jornal, nota da Prefeitura de Rio Preto considerou vantagem ter ocorrido “apenas uma morte” em 2011 e uma agora. E eu pergunto: a vida de uma pessoa não tem valor? Ou só tem valor se esta única pessoa tiver milhões no banco?
Vamos comparar com a realidade em outros países. Certamente que há países onde a vida humana é ainda bem menos respeitada que no Brasil, mas se a intenção é melhorar é preciso mirar os melhores exemplos. Sem entrar nos pormenores da guerra, é fato notório, avalizado por membros da comunidade judaica, inclusive a do Brasil, que “todo soldado israelense SABE que seu país não medirá esforços para resgatá-los caso caiam nas mãos do inimigo, no que seria uma ratificação do profundo respeito de Israel à vida humana e para os caídos”. E o texto vai além: “Este princípio emana do senso de moralidade de Israel assim como da ética judaica. Trata-se de uma demonstração do poder físico e moral de Israel”.
Em cena de um especial para TV, o presidente John Kennedy, em reunião com o presidente russo, tenta persuadi-lo de que era preciso evitar o confronto. Como argumento, o fato de que muitas pessoas perderiam a vida. O presidente russo teria respondido: “O que só vai provar que nós, russos, somos muitos”.
Vou acreditar no governo que valorizar a vida de cada ser humano e não no fato de sermos muitos. Vou dar valor ao governante que enxergar a infinita potencialidade do indivíduo e na perda incomensurável que se tem a cada criança desperdiçada nas ruas e que poderia se tornar um adulto de sucesso, contribuindo, com o seu talento, para o desenvolvimento do país, provando que o verdadeiro exército é o “exército de um homem só”.
A vida de uma única pessoa precisa ser valorizada. Do contrário, continuaremos assistindo ao massacre de milhões nas estradas, em assaltos e pela forma mais vil: a corrupção.
Ainda há muito que fazer. Por enquanto, quando se tira uma vida, ainda é possível ganhar terapia, receber uma punição branda ou nem isso. Afinal, é apenas UMA vida. Quem liga?

terça-feira, 10 de abril de 2012

Viciados em celular

As paranoias já podem ser encontradas numa variedade tão grande quanto os produtos de uma loja de departamentos. Uma delas é a nomofobia – do inglês no mobile phobia (fobia de ficar sem celular). São pessoas que, ao perderem seus celulares ou ficarem momentaneamente impedidas de conectarem seus smartphones, sentem-se como aquele soldado com a perna gangrenada ao ouvir do médico: “Vamos ter que amputar, filho”.
Elas têm que estar conectadas religiosamente todos os dias a todo o momento, ou é ataque de ansiedade na certa. Para entender o ridículo da situação, seria mais ou menos assim: Ulisses, ao invés de chegar da Guerra de Troia e encontrar sua Penelope pura e casta, tricotando e desmanchando, tricotando e desmanchando, teria recebido um SMS dizendo “Pepé ta saindo com o Cláudio”. Ou ainda contemplaria petrificado as fotos do flagra tiradas com um celular e postadas numa rede social. Para se vingar, ele enviaria para toda a sua lista de contatos fotos comprometedoras da grega safada.
Difícil para o nomofóbico analisar a real dimensão da importância que ele dá a cada postagem ou checagem, e separar o que é produtivo do que é distração ou narcisismo.
Complicado conversar olhando no olho do nomofóbico, cujo celular é mais ativo do que um coelho na puberdade. Arriscar uma conversa não virtual com o nomofóbico é se sentir numa churrascaria de rodízio, onde não conseguimos concluir um raciocínio sem sermos cortados pelo tilintar de espetos de cupim, picanha no alho e lingüiça cuiabana.
Numa de minhas férias loucas, mal programadas e inesquecíveis, procurávamos o caminho para Trancoso, a partir de Caraíva, sem ter que pegar a rodovia, aventurando-se nas estradinhas de terra que ligam – ou ligavam, já não sei como aquilo está – um vilarejo de praia a outro. Aquilo era quase um universo paralelo dos contos de Tolkien, onde no lugar de elfos pululavam seres inexplicáveis de cabelos enormes em forma de microfone. Ninguém tinha nem relógio. Para saber a hora, tinha que olhar pra cima e ver a posição do sol.
Sem saber se teríamos sucesso na empreitada – dizia a lenda vigente que as chuvas dos últimos dias haviam destruído algumas pontes que ligavam as vilas – entramos no Uninho com fé, já que a fé, por aquelas bandas, não costuma ‘faiá’. As tais pontes eram pedaços assimétricos de madeira, preparados para receber mulas de quatro patas e outras mulas que insistiam em testar sua resistência em um veículo de quatro rodas.
No caminho, avistamos um menino franzino de pés descalços e bermudas desbotadas. Perdidos, paramos para pedir ajuda. Como um Yoda do Agreste, ele nos informa do preço a ser pago pela preciosa informação. Apelamos: “Dá um desconto pra gente... Olha o nosso carro!”. Movido da compaixão que só os pobres têm, o garoto releva: “Tá bom, tio, me dá cincão que eu te levo lá”. E no final ele fez muito mais que ensinar um caminho: contou histórias, nos divertiu, demos risadas, fizemos um amiguinho, tiramos fotos. Ficamos sabendo que sua mãe é lavadeira, que ele queria estudar e tinha planos. E também que aquele pedaço da praia, logo depois do coqueiro debruçado, fica lindo quando a maré baixa, deixando o mar da cor verde água dos olhos de Diadorim.
Fosse eu nomofóbica naquele ano 2000 da Miss Brasil de Rita Lee, não baixaria os vidros do meu carro para pedir informação. Consultaria o GPS do meu smartphone. E o garoto sorridente , queimado de sol, jamais figuraria em nossas fotos, nem o que aprendemos com a história de vida de alguém tão novo e que se vira tão bem usando apenas a vibração de suas cordas vocais.
Sejamos honestos, aparelhos de última geração não me dariam sequer a chance de me perder. Consultaríamos, antes de sair de casa, a previsão do tempo e as condições das estradas: chuvas torrenciais em todo o território nacional nos próximos dias, com trechos interditados. Por um desses mistérios da meteorologia, fomos abençoados por uma janela de sol baiano, em meio à chuvarada que nos pegou pelas beiradas. Se tivéssemos sido espertos como nossos telefones de hoje em dia, estaríamos a salvo, dentro de nossas casas, acessando a internet, postando vídeos e respondendo a comentários, explicando a centenas de internautas porque não fomos, sendo que 90% deles estariam se lixando pra isso, porque eles estariam postando comentários divertidíssimos sobre a Maísa que ainda não voltou de Bagdá. Não teríamos sentido o prazer de se perder em ruas de terra cercadas por amendoeiras e descobrir ali adiante um berçário de caranguejos. E pensar que foi se perdendo que um dia se chegou neste país.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

A dança das cadeiras

Que me perdoem o amadorismo leigo, que eu, de verdade, só entendo de jornalismo, tutorial de internet, bolo de chocolate e otras cositas más que a curiosidade inerente à minha sofrida profissão me permite saber. Reconheço que existem alguns tipos gênios, como Leonardo da Vinci, que pintava o sorriso da Monalisa com uma mão e com a outra se debruçava sobre estudos científicos que iam de aeronáutica e astronomia, passando por botânica e engenharia, até química, geologia, hidrodinâmica, física, zoologia e pirotecnia – e aonde mais ele não “ia”?


Confesso que uma vez destituída de minha atual função, poderia pensar em bem menos áreas férteis de onde tirar meu ganha-pão. Todas, de uma forma ou de outra, dependeriam da habilidade de comunicação, intrínseca às ciências humanas. Não ser gênio e ser honesto tem dessas coisas. Não me transformaria, do dia para a noite, numa arquiteta de sucesso. Como engenheira, poderia dar a mão a Sérgio Naya, aquele do prédio que desabou e que faleceu em 2009, dentro de um quarto de hotel – que não desabou, fique claro – conforme o Wikipédia acaba de me lembrar. Leio que na Prefeitura, quem estava na Secretaria de Cultura foi para a de Compras. Quem estava no Fundo Social foi para a Cultura. Quem estava no Planejamento foi para Obras. Quem estava na Secretaria do Emprego vai para o Planejamento. Diante desse maracatu das cadeiras nas secretarias municipais de Catanduva, chego a pensar que ou a nossa Prefeitura está cheia de gênios, que como Da Vinci dominavam as mais diversas áreas do conhecimento, ou quem nomeia para cargos de chefia no nosso Município não tem a menor ideia do que está fazendo. Ou tem, e a ideia é essa mesmo...