quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Quando você se importa com a cidade?


Quando é que a gente se importa com a cidade onde vivemos? Quando precisamos dela. Quando nos identificamos com ela. Quando nos sentimos cidadãos. Quando somos tratados com respeito por quem está na administração e não somos vistos apenas como pagadores de impostos.
O caso é que aquela pessoa que não ‘precisa’ da cidade para sua realização pessoal não vai se revoltar facilmente com as injustiças. Milionários que exploram culturas tradicionalmente caracterizadas pelo monopólio e pela exportação, quando precisam comprar, vão aos grandes centros, também Europa.
Quando precisam viajar, vão de avião. Quando ‘andam’ pelas ruas, o fazem a bordo dos carros mais confortáveis. Se ainda assim o carro tiver qualquer problema, devido aos buracos, arrumar não é problema. Há dinheiro.
Se não há opções para os filhos estudarem, eles têm recursos para mandá-los estudar fora e depois os apoiarem para carreiras fora da cidade ou mesmo na administração dos negócios da família.
Para o lazer, não faz falta a cidade. Eles têm grana para viajar para onde quer que seja. As distâncias se encurtam quando se tem dinheiro.
Se a saúde pública não é de boa qualidade, se o posto de saúde não tem médico, se as especialidades médicas não estão a contento, é fácil resolver. Basta procurar qualquer grande hospital em outra cidade, Estado ou país.
Se a segurança não está lá essas coisas e a droga toma conta da cidade, eles são os menos prejudicados. Pagam segurança particular, se trancam em condomínios fechados com toda a segurança, investem em sistemas de alarme e monitoramento, entre outras providências que o vil metal é capaz de providenciar.
Falta de emprego lhes tira o sono? Que piada. Pois se eles estão com as contas bancárias atoladas de dinheiro e são capazes de garantir uma boa colocação para seus entes queridos e amigos próximos. Estando tudo bem na vizinhança é o que importa.
A cidade não tem vaga pra estacionar? E? “O que você deseja que eu faça com essa informação?” – eles diriam, com ar blasé. Milionário ri de problemas como esse. Porque rico não corre atrás, manda buscar. E como já foi dito antes, faz suas ‘comprinhas’ fora daqui. Milão, Londres e Paris não são o limite. Porque a Oscar Freire haveria de ser?
Calçadas esburacadas representando risco para as pessoas e principalmente a população idosa e mais carente? Ruim pra esses pobres coitados. Para os ricos, pisar numa calçada dessa é quase tão provável quanto pisar em Plutão. Eles percorrem a Piazza San Marco, as ruas estreitas da Provence e as calçadas efervecentes da Broadway.
Sistema de transporte público de má qualidade? Vou pular esse item, pois é mais do que óbvio onde eu quero chegar.
Falta de incentivo ao comércio local e à vinda de indústrias? Quem liga? Pois se eles são os donos das poucas grandes indústrias que existem. E estão com os olhos virados para fora daqui, não para dentro.
Pobreza e retrocesso que leva aos despreparo e à péssima qualificação profissional para o trabalho? Quem se importa? Ricos não. Eles trazem funcionários de fora, formados em universidades da Capital, com cursos no exterior. Quem tem que aturar o problema são os comerciantes da cidade, micros e pequenos empresários que sofrem pagando impostos, com a falta de estrutura da cidade e o descaso. E, como se não bastasse, ainda são ignorados justamente nos assuntos concernentes a eles. Mesmo sendo eles a maioria, ou seja, o setor mais expressivo na geração de empregos – duradouros, não sazonais – e um dos mais expressivos também no repasse de verba para a municipalidade.
Vemos dia após dia uma sensação de abandono, sentida principalmente pelos pobres da cidade e pelos microempresários, ou seja, por gente pequena. Pois aqui só vemos os extremos da corda: os muito ricos e os muito pobres, com raras exceções, além de uma classe média média se equilibrando no meio, como por um milagre.
Estão todos cansados, é verdade, com tanta palhaçada e desconsideração. Recentemente, uma senhora de 67 anos caiu numa calçada em frente ao Terminal Urbano. O Jornal do Comércio já havia noticiado em sua edição de novembro o risco que isso representava. E isso após meses e meses nessa situação, como se aquele pedaço da cidade – em pleno centro! – não existisse. Como é possível não enxergá-lo, estando ele em frente ao único Terminal da cidade, ao único Fórum, e próximo à Prefeitura e à Câmara!!!
Ficamos mesmo com a sensação de que os poderosos de Catanduva não precisam da cidade, não precisam ficar aqui, por isso não a enxergam. Sim. Literalmente não a vêem.
Precisamos urgentemente de mais gente que precise da cidade, de mais indústrias, de mais empresas que se fortaleçam e se propaguem. De mais ensino de qualidade e mais desenvolvimento para atrair profissionais e não para expulsa-los daqui com sua falta de oportunidades. Só assim teremos gente que vem para morar aqui, precisando daqui, e não de passagem, como vêm os cortadores de cana – trabalho insalubre, peregrino e de pouca rentabilidade.
Chega de injustiças e coronelismos. Chega de demagogias e provincianismo. Chega de fazer quem precisa da cidade se sentir um estrangeiro dentro da própria cidade. Essa população maltratada nunca vai se sentir estimulada a fazer nada pela cidade. Nunca será motivada a melhorar para crescer. Pois não há para onde crescer. Chega de fazer dessa cidade um lugar onde quem tem poder e dá as cartas só precisa do chão onde pisa para retirar os recursos que o farão pisar a quilômetros daqui. E depois ainda batem no peito, dizendo que “são daqui” e não são “forasteiros”, fechando, muitas vezes, as portas, para quem vem de fora ou é de fora do “círculo dos tradicionais” e quer fazer algo diferente e inovador. Eles não se importam porque não precisam. Se você precisa, importe-se!