sexta-feira, 28 de junho de 2013

O telefone e eu



O meu telefone celular é mesozóico. Logo logo estarei colocando ele no e-Bay pra colecionador de antiguidades. Ele não faz nada - quero dizer, não tira foto, não filma, não conecta internet, não dança, não representa, nem sapateia - mas todo mundo me acha nele. Sem falar que ele já caiu no chão 100 vezes e o bichinho resiste. Já dizia a minha avó: vaso ruim não quebra. Ele também tem habilidades sobrenaturais. Ele é médium. Só recebe. E eu tenho sobrevivido. Não é que eu não goste de tecnologia. Eu gosto dessa proximidade que a internet nos traz, da velocidade de informações, etc, mas ninguém até hoje conseguiu me convencer a comprar um celular caríssimo com mil e uma utilidades. E quando alguém vem todo pomposo me mostrar o celular novo eu me esforço pra fazer cara de AHHHHH OOOOOH. Eu tento imaginar que aquela coisa sem graça, cinza, é um anel de pérola negra ou um colar de esmeraldas, sei lá.
Sei que ontem a Claro me mandou uma mensagem dizendo que se eu não pusesse crédito eles cancelariam meu número. Comprei 8 reais na Banca do Rossi e tenho que ligar pra "alguéns" até dia 7 de julho. Mas, meu Deus, pra quem vou ligar? No trabalho uso telefone da empresa. Em casa uso o fixo ou falo pela internet. Em casa quero sossego e ver meus filmes (me liguem em caso de emergência só, tá?). Pra quem vou ligar, santo pai? Estou pensando seriamente neste assunto... Por isso não estranhe se eu ligar pra você com uma conversa assim: "tá calor hoje, hein?". Ou então: "e aí, tudo bem?". Eu não sou tão altruísta assim. Só odeio desperdício. Quero aproveitar os benditos 8 reais que eu gastei sem querer.
Aí eu olho pra Norma Jean glamourosa fazendo a maior pose com esse telefonão de fio de rabo de porco, como se atender um telefone fosse um a-con-te-ci-men-to (e era) e eu sinto um banzo... mas um banzo... Saudade do que nunca vivi, né, porque enquanto ela atendia esse telefone minha existência pululava em algum lugar do cosmos esperando a hora certa de encher a pança da dona Tereza.
Eu só queria que o telefone às vezes voltasse a ser um acontecimento, aquele trimmmmm hitchcockiano, aquele reeeeeec reeeeeeeec daquele círculo de plástico rodando enquanto a gente discava os números naquele telefone arredondado. O chic era ter o quadradinho. Não, pensando melhor, o chic era ter aqueles de novela que a Odette Hoitmann abria aquela partezinha dobrada pra poder falar. Ufff o ápice da modernidade. A cara da riqueza. E hoje a gente ri disso. Pois bem. Vão rir de vocês também, viciados em celular, tablet ou sei lá que coisa mais.
Mas pra finalizar eu só queria... eu só queria mesmo que a gente pudesse voltar a ter uma conversa decente olho no olho sem ser interrompido pelo Luan Santana se esgoelando no celular. Eu só queria me reunir com meus amigos em volta duma mesa de bar, contar histórias, filosofar, rir, em vez de falar com as paredes enquanto todo mundo com seus respectivos aparelhos checa e responde mensagens.
Eu só queria mas... peraí, meu telefone tá tocando. Volto já.