segunda-feira, 19 de novembro de 2012

As renas do Apocalipse


As renas do Papai Noel estão tensas. Não sei que som elas fazem. Sei que os sapos coaxam, que os pássaros gralham e que as galinhas cacarejam, mas não sou de uma abnegação machadiana para com a descrição da linguagem dos animais. Então vamos considerar simplesmente que elas relincham. Estão doidas as bichinhas e se negam a ganhar os ares. O caso é que espalhou-se o boato de que o mundo vai acabar no dia 21 de dezembro de 2012. Estaria cancelado oficialmente o Natal.
Mas de onde veio essa boataria toda? Os maias, que se fossem espertos de verdade existiriam até hoje, se escafederam da face da terra – ou foram ‘escafedidos’, melhor dizendo – mas antes, por vingança tola talvez, deixaram seus diários fatalistas com suas previsões de fim do mundo.
As pistas dos antigos moradores da América Central seriam o aquecimento global, as tragédias cada vez mais frequentes, este fogo no pé da cabra que virou o mundo.
Dava até pra dar uma dose de crédito, considerando que este povo nos fez o grande favor de inventar o chocolate, mas com base em que raio da silibrina alguém põe um pin num calendário para séculos mais tarde, desconsiderando totalmente o que ainda sequer aconteceu e baseando-se unicamente no modelo atual de vida?
Explico melhor: quando se diz que a Amazônia acabará em 20 anos e ponto final, não se considera qualquer decisão eventual no presente desconhecida que venha a frear ou mesmo evitar tal hipótese. Servem, notadamente, apenas, para um alerta, para que repensemos nosso modo de vida e pensemos no futuro como algo a se viver de maneira mais responsável.
Por estas bandas, não há o que se preocupar. Primeiro porque a própria NASA fez questão de garantir que o mundo não vai acabar em 2012. A Agência Espacial Norte-americana divulgou um artigo científico, assinado por Francis Reddy, do Centro de Pesquisas Espaciais de Goddard, negando as teorias de que uma Supernova poderia pôr fim à vida no planeta. Segundo Reddy, dada a incrível quantidade de energia liberada na explosão de uma Supernova, mais até do que o Sol criou durante toda a sua existência, é um erro afirmar que esse tipo de explosão poderia acontecer em 2012. Porém, ele frisa que o espaço é muito grande e há inúmeras áreas que ainda não foram exploradas, de forma que a hipótese não pode ser descartada por completo, mas apenas para fins estatísticos, já que é bastante improvável.
Não dá nem pra bater um medinho, porque quando cientista diz “bastante improvável” ele quer dizer 0,000000001% de chance, a coisa que na prática não vai acontecer, mas ele tem que dizer alguma coisa, até pra soar menos ridículo.
Nem precisava incomodar a NASA, né? Eles têm coisa muito mais importante pra fazer, como comer poeira em Marte e achar uma molécula de hidrogênio em Plutão e chamar de vida, enquanto por aqui defendem o aborto porque uma simples célula ainda não é vida. Vai entender.
Ainda que esta verve medieval tivesse fundamento, por Catanduva continuaria a mesma coisa. As previsões para este Natal são muito boas, ainda mais com a Campanha “Feitiço de Natal” fervilhando por aí, alimentando os desejos de muita gente desejosa por ganhar um dos grandes prêmios que serão sorteados. O sorteio, sim, tem data marcada. Agora o Apocalipse? Ah, gente, vamos combinar que Apocalipse com data marcada não é Apocalipse, né? É Páscoa sem ovo.
Fim de mundo que se preze tem que ter improviso, corre-corre, aperreio. Senão é alarme falso.
Talvez no inconsciente coletivo das pessoas exista um masoquista desejo de ver tudo pegando fogo, assim como numa espécie de expiação dos pecados, uma forma de torrar o que nos consome já há muito tempo e de começar de novo.
Neste aspecto, é até triste frustrar a plateia dessa falsa catástrofe anunciada, para dizer que elas precisam continuar pagando o crediário e poupando. Em suma, pensando no futuro.
E aí concluo que é ainda mais triste pensar que muita gente, mesmo desacreditando que o mundo vai acabar este ano, com data marcada e tudo, continua vivendo como se realmente o mundo fosse acabar, agindo de maneira irresponsável, só pensando no presente.
Enquanto isso, até fim de mundo é motivo para o povo entrar na brincadeira e lucrar até mesmo com tais ideias fatalistas. São festas com temas apocalípticos. Os maias iriam adorar, regados a chocolate.
E é isso. O clima de Apocalipse é só um motivo a mais para se divertir, mas com cautela. Não venda a casa para dar a volta ao mundo.