quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

As sacolas de plástico do Satanás




O Brasil tem momentos memoráveis. Lembro quando todo mundo foi obrigado a ter kits de primeiros socorros no carro. Ai de quem fosse pego numa blitz sem o tal kit. Era multa na certa. E salgada! Ficou pra sempre a dúvida no ar do que alguém poderia fazer pra ajudar uma vítima de acidente com traumatismo craniano, com um exemplar do kit nas mãos. Colocar umas gazes com fita adesiva aqui e ali? Quem se deu bem foram os fabricantes. E por falar nisso, por onde andarão os tais kits?
Eles me fazem lembrar o Kit Kat chocolate. O Kit Kat também sumiu do Brasil. Comi meu último na Austrália. A comida de lá era horrível. Eu vivia à base de Kit Kat. Mas não era mau. O Kit Kat devia ser um dos componentes da cesta básica. O Kit Kat, aliás, seria mais útil que o tal kit de primeiros socorros. Se eu me perdesse numa estrada de terra esburacada, não morreria de fome. Como um país como o Brasil, já a 6ª economia do mundo, pode não ter Kit Kat? Para os que vêem maldade em tudo: não, eu não estou recebendo cachê do fabricante pra falar deles. E nem me acusem de fútil. Não finjam que isso não é importante. Eu garanto que qualquer um que leia este artigo trocaria sem pestanejar uma caixa de kit kats por um senador. E fui boazinha agora. Pra maioria, não bastaria nem a caixa inteira. E talvez alguns fizessem jejum por um mês só pelo prazer de ‘ejetar’ um senador. Eu não entendo... talvez esses kit kats tenham ficado todos retidos em Brasília, no fim das contas... Eu abriria uma CPI pra investigar o sumiço dos kit kats.
O caso é que eles voltaram! Quando os vi na prateleira do supermercado, baixou o espírito do Scrat, aquele esquilo pré-histórico do filme Era do Gelo, que fica hipnotizado quando vê sua noz. Pois bem, engalfinhei uns quatro kit kats numa mão só e deixei brilhar a criança que vive em mim. Cheguei a casa, fui saborear, cheia de expectativa, mas o sabor... estava horrível! Me venderam um biscoito mirabel de 1979 coberto por uma camada de chocolate de quinta! Será que eu vou ter que ver canguru novamente pra poder comer um Kit Kat decente? Enfim, morar num lugar onde as coisas são o que deviam ser e os chocolates não viram uma meleca deve ser um bálsamo.
E já que eu estou falando em compras, aproveito pra compartilhar minha primeira experiência no mundo ecológico dos brasileiros de 2012. Sim, porque agora que a gente não vai ter mais sacola plástica pra carregar as compras, todos os nossos problemas acabaram. Está escrito em Organizações Tabajara, página 26.
Lá vou eu fazer minhas comprinhas. As ditas sacolinhas poluentes já não estavam lá. Pedi a biodegradável, disposta a pagar os tais 19 centavos, ainda que ache que seja obrigação do mercado pagar, conforme dita o Procon. Mas cadê as biodegradáveis? Nem cheiro. "Onde devo carregar minhas compras, então?"
A caixa disse que ia me arrumar uma caixa (caixa de papelão, digo). “Carrego onde? Na cabeça?” pergunto. "A senhora não tem carro?" Respondi um lacônico 'não'. Claro, compreensível em Catanduva. Com um Terminal Urbano daqueles, você é obrigado a ter carro. Mas “não, não tenho, não senhora”.
A caixa vai até um balcão ver o que pode ser feito. De lá, umas funcionárias cochicham e olham pra mim, com cara de espanto, como se eu fosse um alien. Me sinto péssima. Ela me vem com umas sacolinhas remanescentes do plástico maldito do Satanás. Não sei de onde tiraram aquilo. Deviam estar já na boca do sapo ou então é contrabando, já não sei. Continuo me sentindo péssima. E saio de lá mais péssima ainda em saber que em Catanduva não há coleta seletiva de lixo e que o tal plástico da biodegradável, por causa do amido de milho, vai se desprender em pedacinhos exíguos pra não entalar em bueiro e fazer um problema ficar invisível aos nossos olhos. Os pedacinhos pequetiticos do mesmo plástico, com todas as químicas poluentes, vão pra onde mesmo? Pra outra galáxia? Pra putana que los parió? No, no, no. Acertou quem respondeu: “vão pra natureza mesmo”. Como a gente é ishperto, néan??
Já ia me esquecendo, o Kit Kat, que eu nem terminei de comer, foi com plástico e tudo pra lata do lixo, destino para onde devem ter ido os infames kits de primeiros socorros que agora pululam por aí – seus restos mortais, digo – pelos fétidos esgotos do nosso Brasil varonil, onde vergonha não é roubar. Vergonha é comprar e não poder carregar. E assim eu vou descendo a ladeira: lata d’água na cabeça... lá vai Maria... lá vai Adriana... lá vai Luzia...
(As fotos que ilustram o artigo são de Kit Kits do Japão nos sabores manga e melancia, frutas... brasileiras!)

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