Dificilmente
se pode achar um epíteto mais apropriado que “mãe” quando o que se tem em mente
é alguém que age e não fica só de trololó. Mãe, aliás, ganha esse nome
exatamente porque “fez”. E é dela todo o trabalho por algo pelo qual, a partir
do primeiro ano, quem vai levar os parabéns é o rebento.
Quer quantificar o quanto uma
mãe é a função que mais se aproxima do ideal de iniciativa? Imagine que, ao
cometer um lapso no trabalho, como perder a hora, voltar um troco errado ou
escrever um texto com erro de português, uma pessoa morre. Certamente se buscaria
dormir com um despertador em cada borda da cama, conferir o dinheiro trinta
vezes e matricular-se imediatamente num curso intensivo de Língua Portuguesa.
Pois é esse estresse que acomete as mães, as quais, à menor distração, podem
colocar em risco a vida de seus bebês, seres totalmente indefesos num mundo
cheio de perigos. Aquela frágil criatura depende de muitas iniciativas
maternas.
As mães não têm tempo a perder
com discursos vazios. Elas devem colocar a mão na massa. De suas mentes, mãos e
pernas depende o alimentar diário de seus filhos, bem como a higiene, a saúde e
a educação, e tudo o mais que envolva a formação de um ser humano feliz, bem
preparado e de bom coração.
Seria esperar demais? Às vezes sim, pois a vida tem seus mistérios e
não é perfeita. Por isso mesmo, muitas vezes, a despeito do esforço materno,
não é possível privar os filhos de momentos infelizes, muito menos impedir
tragédias ou que o filho tome decisões erradas, prejudicando a si mesmo ou a
sociedade.
Trabalho difícil o de ser mãe. Todo trabalhador recebe, ao final de
cada mês, o seu merecido salário. À mãe compete se doar por amor, muitas vezes
abstendo da própria vaidade em prol do bem-estar do filho. E para ela um beijo,
um abraço, uma demonstração de carinho, por mais simples que sejam, não têm
preço.
Muito se fala que as mães não precisam se anular. Elas conquistaram
também seu espaço como profissionais, reservando um tempo para se cuidarem e
mantendo-se belas e atraentes. E tudo isso é verdade. Mas também é verdade que
para uma boa mãe vem sempre em primeiro lugar a felicidade do filho. Se todas
as mulheres pensassem assim, poucas decidiriam se tornar mães. Porque ser mãe
não é projetar suas frustrações, querendo se realizar nas conquistas do filho.
Ser mãe é compreender que se deu vida a outro ser humano, com aspirações que
podem ser totalmente diferentes das dela e, ainda assim, amar
incondicionalmente, um amor que não visa o retorno imediatista e sim a formação
do caráter.
As mães nos ensinam muito sobre
compreensão, prioridade e iniciativa, algo que anda muito em falta. Vemos hoje
em dia pessoas fazendo muitas tarefas ao mesmo tempo, muitas atividades durante
o dia, satisfazendo seus egos, mas, ao final de um longo período da vida, o que
elas realmente “fizeram”?
A sociedade está perdida em sua montanha de compromissos, andando em
direções impostas, dentro daquilo que se configurou como certo ou ideal de
sucesso e reforçando destinos infelizes a quem não soube identificar sua
própria fórmula de felicidade para, a partir de então, viver a vida priorizando
o que é realmente importante, com coragem e iniciativa para agir quando a vida
pede mudança, com mais atitude e menos confabulações.
Recentemente, na fila de uma
repartição pública, duas mulheres praguejavam, ao ver que, na sala lotada,
todas as cadeiras estavam ocupadas, sendo uma delas por um par de sacolas. Uma
delas cochichou, com muita raiva: “Essa é boa... agora sacola também senta?”. Eu,
que tinha chegado alguns segundos depois delas e ouvi a conversa, diante da
inércia das reclamonas, me dirigi até o assento. Não foi preciso nem pedir. Ao
me ver, o rapaz educadamente colocou as sacolas no chão e eu me sentei,
agradecendo. Talvez aquelas mulheres tenham pensado: “Puxa vida! Por que eu não
fiz o mesmo, em vez de ficar falando mal?”. Certamente aquele rapaz colocou as
sacolas no assento quando não tinha tanta gente e depois se distraiu. Mas
muitas vezes nossa maledicência apática nos cega.
O caso citado é um exemplo muito simples de um fenômeno doentio que
acomete muita gente: o praguejar vazio, seguido pela falta de iniciativa. Não
adianta esbravejar se você não reclama com a pessoa certa ou no setor adequado,
simplesmente para manter as aparências e evitar o confronto. De nada resolve
criticar e até falar palavrão, se você não tem um plano para fazer a sua
indignação exercer influência na mudança de realidades, seja individualmente,
seja unindo-se a grupos de pessoas que compartilham do mesmo ideal para
reverter injustiças.
O brasileiro precisa entender de uma vez por todas que não estamos mais
sob os anos de chumbo da ditadura, que obrigava a todos a se calarem e engolir
em seco toda revolta, guardando para si todo descontentamento. Precisa também deixar
de ser individualista e fatalista, achando que nada resolve, que a vida é assim
mesmo, bem “Gabriela”, que se todo mundo faz não tem problema, que ser simpático
é mais importante que falar a verdade, que viver num mundo de ilusões é melhor
do que tentar.
Muitas vezes não queremos sair de nossa zona de conforto e evitamos ao
máximo uma conversa frontal e sincera, um passo à frente, uma decisão, uma
ação. E então nos esquecemos de que os bons pensamentos devem nos levar a boas
iniciativas, para que estas se convertam em hábitos e, ao final, moldem
destinos.
Mães entendem muito bem de
iniciativas. Mães, com seus almoços e jantares, no “tchic-tchic” de suas panelas
de pressão, entendem perfeitamente de hábitos, em suas rotinas estafantes. Mães
também entendem muito bem de destino, pois trabalham pelo futuro, na mais
desafiante das missões: criar um novo ser humano. Mães só não entendem de “acabativa”.
Uma vez ‘mães’, este posto nunca acaba. Iniciativa elas sempre terão, enquanto
o filho for filho ou pai de seus netos.