sexta-feira, 3 de junho de 2011

A revolta anti-feminista

       
            Eu já estou entrando no Renew, mas não vivi essa época, que fique bem claro. Quando li as primeiras reportagens sobre a história da emancipação feminina, lá pelos meus oito anos, as fotos em preto e branco da mulherada queimando sutiã estavam ao lado dos comentários da novela Selva de Pedra. E no Brasil dá pra contar o tempo assim: por nome de novela e pacote econômico, com a diferença de que uma acaba bem e o outro... Anyway, se os sutiãs da época não fossem tão mocorongos, ia achar um desperdício. Que venham os push-ups, corselets, corsets... santa tecnologia têxtil! Se as mulheres podiam ser adoráveis como a Marilyn de Gentlemen prefer blondies, porque raios elas queriam se parecer com uma arqueóloga que prefere dar seus fósseis pro cachorro brincar a usar um batom?
            Sempre achei lindo quando as mulheres gostam de ser mulherzinhas e quando os homens as tratam como tal. Gosto quando as mulheres se sentem seguras pra ser atraentes, sem achar que o fato de se cuidarem as torna fúteis ou menos inteligentes. É poderoso ser esperta sem achar que tem que provar isso pra alguém. As mulheres de antigamente podiam entender menos de gráficos e prazos, mas eram mais protegidas e protegiam mais.
Sinto um cheiro de lavanda no ar, quando me lembro da minha avó, que nunca teve carteira assinada, cuidando feliz das flores do quintal, colhendo as couves de sua hortinha e preparando uma comida cheirosa 100% orgânica, aquela que a gente paga mais caro no supermercado se não quer comer uma salada temperada com agrotóxico.
Lembro da minha mãe trocando receitas com minhas tias. Como fadinhas encantadas, lá pelas cinco da tarde faziam jorrar de seus fornos os resultados de verdadeiras poções mágicas.
A vida tinha sabor de queijo e goiabada derretidos, num tempo em que ninguém tinha que passar por um treinamento espartano na academia pra ter pernas de jogador de futebol. Que o diga Marta Rocha e suas polegadas a mais. De bônus, suas conterrâneas ainda ganhavam bombons. Era o jardim das delícias. Hoje em dia os homens não cometem essa ousadia. Não sabem se vão ser vítimas de um ataque histérico, acusados de estarem arruinando uma dieta. Pecado imperdoável contra elas, as super mulheres, que acordam às 6 da manhã, com vontade de socar o despertador, trabalham o dia inteiro fora de casa, continuam trabalhando quando chegam a casa e ainda tem que arrumar tempo pra ficar bonita e sexy. Bombom? Sem chance.
Ficar na cama serpenteando as pernas languidamente entre lençóis brancos é coisa pras contemporâneas de Audrey Hepburn, numa época em que se podia tomar um breakfast at Tiffany’s sossegadamente. Hoje nem se quisermos podemos ficar em casa, pois as mulheres já invadiram o mercado de trabalho. Com mais gente competindo, o salário deles diminuiu e agora precisa do nosso. “E aí, meu bem, vamos rachar a conta?” Que romântico... Garanto que foi a frase que o Humphrey Bogart disse pra Ingrid Bergman em Casablanca, logo depois do: “Sempre teremos Paris”. Também tenho a certeza que se fosse hoje o Jack do Titanic ia morrer com 90 anos. Ele teria empurrado a Rose daquele pedaço de madeira que ficou boiando e salvo a pele dele. “Sai, colega. Você é bonitinha, but I’m the king of the world”.
A gente quer homens à moda antiga, que abram a porta do carro pra gente entrar, que gostem de fazer surpresa, que mandem flores e até arrisquem escrever um poema, ainda que seja o mais boçal do mundo, de fazer Carlos Drummond de Andrade se revirar na tumba de vergonha. Não existe nada mais bonito que um poema ruim, quando verdadeiro.

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