As renas do Papai Noel estão tensas. Não sei que som elas fazem. Sei que
os sapos coaxam, que os pássaros gralham e que as galinhas cacarejam, mas não
sou de uma abnegação machadiana para com a descrição da linguagem dos animais.
Então vamos considerar simplesmente que elas relincham. Estão doidas as
bichinhas e se negam a ganhar os ares. O caso é que espalhou-se o boato de que
o mundo vai acabar no dia 21 de dezembro de 2012. Estaria cancelado
oficialmente o Natal.
Mas de onde veio essa
boataria toda? Os maias, que se fossem espertos de verdade existiriam até hoje,
se escafederam da face da terra – ou foram ‘escafedidos’, melhor dizendo – mas
antes, por vingança tola talvez, deixaram seus diários fatalistas com suas previsões
de fim do mundo.
As pistas dos antigos
moradores da América Central seriam o aquecimento global, as tragédias cada vez
mais frequentes, este fogo no pé da cabra que virou o mundo.
Dava até pra dar uma
dose de crédito, considerando que este povo nos fez o grande favor de inventar
o chocolate, mas com base em que raio da silibrina alguém põe um pin num
calendário para séculos mais tarde, desconsiderando totalmente o que ainda
sequer aconteceu e baseando-se unicamente no modelo atual de vida?
Explico melhor: quando
se diz que a Amazônia acabará em 20 anos e ponto final, não se considera
qualquer decisão eventual no presente desconhecida que venha a frear ou mesmo
evitar tal hipótese. Servem, notadamente, apenas, para um alerta, para que
repensemos nosso modo de vida e pensemos no futuro como algo a se viver de
maneira mais responsável.
Por estas bandas, não
há o que se preocupar. Primeiro porque a própria NASA fez questão de garantir
que o mundo não vai acabar em 2012. A Agência Espacial Norte-americana divulgou
um artigo científico, assinado por Francis Reddy, do Centro de Pesquisas
Espaciais de Goddard, negando as teorias de que uma Supernova poderia pôr fim à
vida no planeta. Segundo Reddy, dada a incrível quantidade de energia liberada
na explosão de uma Supernova, mais até do que o Sol criou durante toda a sua
existência, é um erro afirmar que esse tipo de explosão poderia acontecer em
2012. Porém, ele frisa que o espaço é muito grande e há inúmeras áreas que
ainda não foram exploradas, de forma que a hipótese não pode ser descartada por
completo, mas apenas para fins estatísticos, já que é bastante improvável.
Não dá nem pra bater um
medinho, porque quando cientista diz “bastante improvável” ele quer dizer
0,000000001% de chance, a coisa que na prática não vai acontecer, mas ele tem
que dizer alguma coisa, até pra soar menos ridículo.
Nem precisava incomodar a NASA, né? Eles têm coisa muito mais importante
pra fazer, como comer poeira em Marte e achar uma molécula de hidrogênio em
Plutão e chamar de vida, enquanto por aqui defendem o aborto porque uma simples
célula ainda não é vida. Vai entender.
Ainda que esta verve
medieval tivesse fundamento, por Catanduva continuaria a mesma coisa. As
previsões para este Natal são muito boas, ainda mais com a Campanha “Feitiço de
Natal” fervilhando por aí, alimentando os desejos de muita gente desejosa por ganhar
um dos grandes prêmios que serão sorteados. O sorteio, sim, tem data marcada.
Agora o Apocalipse? Ah, gente, vamos combinar que Apocalipse com data marcada
não é Apocalipse, né? É Páscoa sem ovo.
Fim de mundo que se preze tem que ter improviso, corre-corre, aperreio. Senão
é alarme falso.
Talvez no inconsciente coletivo das pessoas exista um masoquista desejo
de ver tudo pegando fogo, assim como numa espécie de expiação dos pecados, uma
forma de torrar o que nos consome já há muito tempo e de começar de novo.
Neste aspecto, é até triste frustrar a plateia dessa falsa catástrofe
anunciada, para dizer que elas precisam continuar pagando o crediário e
poupando. Em suma, pensando no futuro.
E aí concluo que é ainda mais triste pensar que muita gente, mesmo
desacreditando que o mundo vai acabar este ano, com data marcada e tudo,
continua vivendo como se realmente o mundo fosse acabar, agindo de maneira
irresponsável, só pensando no presente.
Enquanto isso, até fim de mundo é motivo para o povo entrar na
brincadeira e lucrar até mesmo com tais ideias fatalistas. São festas com temas
apocalípticos. Os maias iriam adorar, regados a chocolate.
E é isso. O clima de Apocalipse é só um motivo a mais para se divertir,
mas com cautela. Não venda a casa para dar a volta ao mundo.
Oi, Adriana... Tudo bem? Achei seu texto muito bom, pois apresentou uma forma divertida de abordar um assunto, que de tão polêmico, tinha tudo pra ser sisudo, por assim dizer... Parabéns pela bela narrativa!
ResponderExcluirObrigada! E apareça sempre! Na verdade me disseram há pouco tempo que o mundo ia acabar. É tanto problema pra resolver que assuntos assim banais tipo o Apocalipse acabam nem ganhando espaço na minha agenda. Um abraço.
Excluir