Chegando ao
mês da mulher, é tempo de debater os direitos e deveres das mulheres. Deveres,
sim, pois um ser humano que pleiteia para si direitos iguais deve estar
preparado para o cumprimento de deveres. E digo isso porque vejo que muitas
mulheres só querem o “venha a nós” e não o “vosso reino”, após me defrontar com
tantas manifestações públicas feministas que envolvem principalmente a relação
da mulher mãe com seu filho, bebê ou feto, que seja.
Seria o bebê
uma mera extensão do corpo da mãe? Assim afirmam as abortistas de plantão, que
enchem a boca para dizer que são donas de seus próprios corpos e não podem ser
tolhidas do direito de extirpar dele o que bem quiserem, seja um nódulo, uma
unha encravada ou um inconveniente feto.
João Pereira
Coutinho, em seu artigo para a Folha, do dia 4 de fevereiro, aborda outra
questão: a mania das mães de aluguel. Cada vez aumenta mais o número de
mulheres pobres que alugam sua barriga. Um filho pode ser comprado por cerca de
US$ 20 mil, na Índia, “como se compra uma mala Luis Vuitton”, compara Coutinho.
Como diz o
mesmo Coutinho, parafraseando Kant: “Os seres humanos devem ser tratados como
um fim em si, não como um meio para”. Não como um meio para prender o parceiro,
não como um meio para realização pessoal, não como um meio para resolver o meu
problema (no caso do aborto). Um ser humano em gestação é uma vida à parte e
como tal deve ser preservado. Não estão sendo considerados os efeitos psicológicos
futuros desse mercantilismo em torno da existência de um novo ser.
Temos falado
muito em direitos. Tudo é relativo e cada um tem uma opinião que deve ser
respeitada acima de todas as coisas. Será mesmo? Será que desejar é
automaticamente passar a ter o direito? Inclusive o direito de se aproveitar de
uma situação oportuna? Neste caso: o parco poder econômico de uma mulher
carente e que, embora voluntariamente doadora, o faz por dinheiro, o que leva a
pensar que se sua situação fosse a ideal não recorreria a meios tortuosos.
O argumento
para avalizar o novo mecanismo de “adoção” é de que a doação do ventre e do
óvulo é voluntária, mas até que ponto vai a liberdade de escolha de uma mãe
desesperada em condição de miséria e educada em total ignorância? Impera apenas
o direito da mãe rica, de comprar o bebê. Quais são exatamente os reais
direitos da mãe que vende sua barriga e seu óvulo?
Voltando ao
aborto, um dos argumentos mais toscos para justificá-lo é o matemático. Simples
assim: com o aborto legal ter-se-ia a quantia de X mortos (os fetos), enquanto com
o aborto ilegal temos a quantia de XX mortos (os fetos, que morrem de qualquer
jeito, na ilegalidade, e as mães, que morrem por decorrência de um aborto mal
feito). Então, com base nesse argumento, melhor seria legalizar o abordo e
diminuirmos as mortes. Certo? Não parece lógico? Será que a estatística é a
única fonte aplicável nesse caso?
A pura
matemática vale para problemas de ordem econômica e financeira, mas não deve
jamais ser o princípio cabal para questões éticas, que envolvem situações tão
complexas, como a vida de seres humanos e tudo que o envolve, que vai muito
além do cálculo simplista. Estamos no perigo de nos aproximarmos ainda mais de
uma sociedade fascista, que não vê mal algum em simplesmente eliminar alguém porque
é mais fácil eliminar do que ter de lidar com ele.
Criticamos
os maias e outros povos tribais porque costumavam fazer sacrifícios para
acalmar os deuses. No raciocínio deles, a solução para o problema da falta de
chuvas ou das chuvas excessivas ou de qualquer intempérie que estivesse
ameaçando a sobrevida da tribo, era perfeitamente normal. Matematicamente então
nem se fala! Em vez de se perderem milhares de vidas, perde-se apenas uma. Os
deuses se acalmam com o sangue derramado e fica tudo bem. Todos sabemos que
tudo isso não passava de uma crendice tola, mas mesmo se fosse verdade, ainda que
fôssemos regidos por deuses lunáticos, o sacrifício forçado de uma vida para
salvar as demais seria louvável? Aceitável? Ético? Poderíamos defini-lo assim?
Pensem nisso.
Existem
muitas maneiras para se evitar uma criança, mas, ainda que todas elas tenham
falhado, a simples rejeição da mãe não pode ser argumento suficiente para um
assassinato. Pois se o óvulo fecundado, como tentam provar, ainda não é humano,
então o que ele se tornará no futuro além de humano? Um dinossauro? Um
ornitorrinco?
Essa não é a
maneira certa de coibir o nascimento de crianças indesejáveis. Devemos procurar
por outros caminhos. O caminho da reestruturação das famílias, o da valorização
da mulher, como mulher que é. Que ela não busque ser igual ao homem só no pior.
A mulher deve ser livre para ter uma carreira e ser reconhecida à altura de sua
competência, tanto quanto o homem, mas às vezes penso que muitas mulheres foram
além e quiseram imitar o homem em seu pior. O homem fuma? Vamos fumar três
vezes mais. O homem bebe até cair? Vamos virar bebuns também, falar alto, agir
como um moleque de rua, que é o que vejo em frente a muitas escolas. A
feminilidade, que é tão preciosa, jogada às favas.
Ser
respeitada como mulher é ter direitos iguais, não é ser igual. Ninguém é igual
a ninguém. E graças a Deus. Marilyn Monroe dizia: “A mulher que quer ser igual
ao homem tem falta de ambição”.
E para as
que querem ser iguais, fica o recado: que estejam então também dispostas a
pagar o preço. Que não reclamem depois se o pai do filho se negar a assumir a
criança. Se a mulher tem direito de rejeitá-la, por que o homem não teria?
Afinal, não somos todos iguais?