Marilyn Monroe, a
Cleópatra moderna, o mito mais poderoso do século 20. Meio século após sua
morte - morreu num dia 4 de agosto de 1962 – Marilyn continua sendo considerada
uma das atrizes mais sensuais que já existiu. Indisciplinada e complicada, tida
como irresponsável e incapaz de ser pontual. “Ela chega atrasada, sim, mas eu
tenho uma tia que sempre chega na hora, mas ninguém gostaria de vê-la numa
tela", defendeu-a Billy Wilder, que a dirigiu em “Quanto mais quente
melhor”.
A falsa loira, que
dizia que era preciso a esperteza de uma morena pra ser uma loira fatal,
conquistou a maioria das vezes os papéis de loira burra e sua fama de sex symbol ofuscou tudo que realmente
era: uma mulher que sabia potencializar seus atributos como ninguém, com
segredos de maquiagem e de estilo de se vestir até hoje copiados, e que desejava
ser muito mais. Estudava, tinha aulas de canto, dança e teatro. Queria se
superar e conseguia.
Dona de uma voz
inconfundível, interpretava dentro e fora das telas. Isso a transformou num
personagem em tempo integral e a prova de que, sem dúvida, era uma grande atriz,
pois a personagem não era a Lorelei de “Os homens preferem as loiras” ou a Pegg
de “Só a mulher peca”. O grande personagem de Marilyn sempre foi a ela mesma.
Um talento inato. “Dirigir Marilyn Monroe é como dirigir Lassie”, disseram. A
atriz colocada no panteão das deusas era ao mesmo tempo ridicularizada e
subestimada. Por trás de seus corsets
apertados, litros de tinta de cabelo e maquiagem, numa manhã decaída, quando
detestava ser surpreendida, ficaria evidente que não era tão bonita assim. Mas
ela acreditava que toda mulher deveria ser chamada de linda, desde a infância,
ainda que não fosse. Por outro lado, sua insegurança vinha do fato de que
apesar do talento que demonstrava, parecia nunca atingir o respeito e prestígio
de suas contemporâneas Katherine Hepburn e Betty Davis. “Não me faça parecer
uma brincadeira”, suplicou ela ao repórter a quem concedeu a última entrevista
antes de morrer.
Podemos dizer tanto
sobre Marilyn e ao mesmo tempo tão pouco. Sabemos que nunca soube quem foi seu
verdadeiro pai. Que viveu em orfanatos após a mãe ser internada num hospício.
Que se casou muito jovem para não ter de voltar ao orfanato e que se divorciou
pouco tempo depois porque o marido exigiu que escolhesse entre ele e a
carreira. Sabe-se que gostava de crianças, mas nunca teve filhos. Sua morte é
cercada por uma névoa de mistério: suicídio ou assassinato? Provavelmente nem
uma coisa nem outra. Devia estar triste e exagerou na dose, misturando remédio
demais com bebida, sendo insana e intensa como a Marilyn de sempre. Não parecia
das mais sensatas, mas também não deu indícios tão fortes de que queria morrer.
Acusar os Kennedy's de assassinato me parece mais uma tentativa desesperada de
explorar o mito. Mas não vou direcionar o artigo para esta arena polêmica e tão
parca de glamour. Prefiro tentar imaginar o que Marilyn queria realmente e o
que era de verdade. Ela sempre dizia que não ligava a dinheiro, só queria ser
maravilhosa. Mas, com 37 anos e a proximidade dos 40, talvez a solidão lhe
tenha batido à porta, gerando em seu âmago crises existenciais aterradoras. O
que a maior diva de todos os tempos poderia querer mais? Ser a mulher do
presidente do país mais poderoso do mundo. Mas não pôde. Ser mulher, aliás, era
o que lhe interessava. Dizia que não lhe importava viver num mundo de homens,
desde que neste mundo lhe fosse permitido ser mulher.
Mas que mulher? O
humor de Marilyn era uma gangorra. Alguns lhe rotulam de egoísta e nada
profissional. Outras, em sua defesa, dizem que Marilyn era apenas uma mulher
frágil. O mais correto a se dizer sobre Marilyn é seu mistério. Seria ela tão
frágil quanto sugeria sua voz de miado de gata? Uma mulher assim tão vulnerável
teria saído do nada e conseguido a proeza de fazer seu primeiro filme com 21
anos, tornando-se a atriz mais poderosa de Hollywood com apenas 27 anos de
idade? Difícil de acreditar. Seria sua fragilidade aparente também parte de seu
personagem? Será que ela sabia o tempo todo o que estava fazendo quando todo
mundo pensava que ela não sabia o que fazia? Acredito que sim, mas o mistério
continua. E talvez este mesmo mistério explique todo o fascínio que circunda
até hoje a mulher de sombrancelhas angulosas, olhos lânguidos, lábios carnudos
e corpo ampulheta, que soube misturar com dosagem magicamente perfeita a lolita
e a mulher fatal. Rest in peace,
Norma Jean? Ninguém pode dizer isso. Norma nunca descansou, desde que se tornou
Marilyn. Como já diz a canção de Elton John: “Your candle burned out long before, the legend never did” (sua
vela se apagou muito tempo atrás, mas jamais a sua lenda). Ao que parece, nem
se apagará.
E por que falar em
Marilyn, para além do 50º aniversário de sua morte? Porque Marilyn também é
história. História do cinema. Porque dias atrás lemos nos jornais de Catanduva a
triste notícia de que os cinemas Bandeirantes e República, parte da história de
Catanduva, fecharão, por falta de recursos. Falta de interesse do público e das
autoridades. Os cinemas são cultura e desenvolvimento para os catanduvenses; para
o comércio principalmente, pois a força da cultura impulsiona os negócios. Quantos
não poderiam narrar momentos em que foram ao cinema e, logo após, compraram
algo numa loja ou um sorvete na sorveteria da esquina da rua Alagoas? Onde
estão os nossos representantes públicos e empresários, que deveriam tentar
impedir que este cinema vire parte do passado? Deixaremos também esta 'vela' se
apagar? Até porque, a tirar pelo descaso geral, nem a lenda ficará. Só o vil
metal salvará. Chora, Norma, chora. No fim das contas, diamonds are a
girl's best friend. Não os homens, que nos abandonam, não a cultura, que é
relegada. Diamantes – Marilyn cantaria – os diamantes são os melhores amigos de
uma garota. Ou de um sistema inteiro.
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