O tempo passa, as fotos amarelam, a poeira se
acumula e a história se repete, com alguns intermitentes aprendizados
aqui e ali. Garoa de sabedoria que não é suficiente para encharcar
mananciais de expectativas e anseios que não podemos jamais
saciar, tocar ou mesmo entender. O mais difícil de tudo não é dizer
adeus. É não saber. O que mais dói é esta prisão sob a forma de
liberdade ilusória. Porque ninguém é dono de nada e nem de si mesmo. A
gente só é dono da nossa consciência, dos pensamentos e sentimentos que
compõem o nosso eu. Desses somos tão donos que somos até capazes de
emprestar e neles passeiam uma série de outras pessoas. Fragmentos de um
tempo da delicadeza, como na canção de Buarque. Notas de um perfume
onírico. E dizem que a vida é pra ser vivida. E nisso não há novidade.
Não há também escolha qualquer. Que a vida não é só isso. E não é. Mas
vivem como se fosse. Só isso. Vive mais, às vezes, quem não vive como
eles. Quem vive distante, nas estrelas, fazendo salivar meus desejos de
transcendência e plenitude. E não dizem que os que se foram estão
melhores que nós? Mas vivem como se não fosse assim. Falam do que não
sabem, do que não acreditam. Bom seria se os que não soubessem se
calassem. Eu sei do que senti muito mais do que sei do que vi, o que não
faz de mim testemunha em potencial nem torna menos verdadeiro tudo que
sei. E o que eu sei é que ser livre é não ter medo de nada, nem da
morte. Principalmente da morte. A vida - esta, não a outra - é que mete
medo. A vida com prazos de validade. Nada pode ser completo assim. Os
que se foram - esses sim - têm as respostas. Vivo com minha mente cheia
de perguntas e com meu coração cheio das pessoas que têm as respostas.